Videoconferência Brasil-Portugal
Língua Portuguesa
Globalização, estrangeirismos:
purismo ou acolhimento
(Domício Proença Filho: conferência do
dia 06/06/2000)
TARCÍSIO PADILHA – Inicialmente, quero convidar
o acadêmico Carlos Nejar, secretário-geral da
Academia Brasileira de Letras e coordenador do curso, para
ter assento à mesa. Tenho o prazer de convidar o conferencista,
professor Domício Proença, a tomar assento à
mesa.
Senhores acadêmicos, minhas senhoras
e meus senhores. Este novo Ciclo que hoje se inicia se insere
no bojo de uma programação atinente aos 500
Anos do Descobrimento ou Achamento do país, e por outro
lado é também um desdobramento da videoconferência
que se realizou no mês de maio, num diálogo entre
a Academia das Ciências de Lisboa e a Academia Brasileira
de Letras. A primeira conferência, Globalização,
estrangeirismos: purismo ou acolhimento está a cargo
do professor Domício Proença que será
apresentado pelo coordenador deste Ciclo e secretário-geral
da Academia, o acadêmico Carlos Nejar.
CARLOS NEJAR Senhor presidente, eminentes
acadêmicos, prezado público presente. Domício
Proença Filho, que hoje fará a conferência,
iniciando este Ciclo a respeito da língua portuguesa,
já é conhecido de muitos de nós. É
professor, doutor e livre-docente em Literatura Brasileira,
professor titular da disciplina na Universidade Federal Fluminense,
crítico literário, poeta, ficcionista, autor
de várias obras, entre elas, Estilos de Época
na Literatura, que já vai a tantas e tantas edições,
A linguagem literária pós-modernismo e literatura.
Como poeta, é autor de Oratório dos Inconfidentes;
como ficcionista, lançou o romance Capitu, Memórias
Póstumas.
Entre as edições que organizou,
encontram-se os Melhores contos de Machado de Assis, já
em 12ª edição, e o recente Aventuras, crônicas
de Rubem Braga ¾ que saiu pela Record e que, em vinte
e seis dias, esgotou a 1ª edição, já
está na segunda, e a informação é
que já vai para a 3ª ¾ sobre Rubem Braga,
este grande cronista natural do Espírito Santo, onde
morei, mas que mora no coração de todos os leitores
brasileiros.
Queria dizer também da minha satisfação
pessoal e a satisfação desta Academia por poder
apresentar Domício Proença Filho, pelo seu talento,
pelo seu valor, e também pelo amor que tem à
palavra, à nossa língua comum. Ele nos dirá
coisas nesta tarde que, tenho certeza, precisamos ouvir. Muito
obrigado.
DOMÍCIO PROENÇA FILHO –
Muito obrigado, Carlos Nejar. Em primeiro lugar, um agradecimento
muito especial pela generosidade de suas palavras, pelo carinho.
Você sabe que essa admiração é
mútua, uma vez que estou aqui diante de um dos grandes
poetas da contemporaneidade brasileira, senão, diante
de um dos grandes poetas da língua portuguesa, o gaúcho
Carlos Nejar.
Senhor presidente, gratíssimo. Senhor
presidente, e prefiro dizer meu mestre de Filosofia nos antigos
bancos do Colégio Pedro II internato, muito obrigado
pelo privilégio do convite, embora a responsabilidade
atemorize um pouco, sobretudo depois da apresentação
de Carlos Nejar. Muito obrigado, acadêmico Carlos Nejar,
por suas palavras e por permitir que eu também estivesse
aqui, num momento importante como é a abertura de um
Ciclo deste porte, mais do que nunca oportuno e necessário
para que se fale e se debata a questão fulcral da língua
portuguesa, coitada, tão sofrida, tão abatida,
tão abandonada nos dias que correm, época de
confusão geral. Como diria Machado: "não
há confusão mais geral que a do enterro de Brás
Cubas".
Muito obrigado, senhores acadêmicos,
pela distinção da presença com que me
honram; obrigadíssimo, Zora Seljan, mais uma vez, pela
belíssima reportagem com que você me brindou,
e sobretudo, por sua presença aqui, agora. Muito obrigado
às senhoras dos ilustres acadêmicos aqui presentes
também; muito obrigado, Geraldo França de Lima,
Murilo Melo Filho, Lêdo Ivo, Ivan Junqueira.
"Problema de língua, conflito
de paixões", aprendi com mestre Celso Cunha. As
paixões são causa de desgraça, e se não
estivesse aqui na presença do professor Padilha, me
arriscaria a dizer uma das poucas frases que restaram das
aulas de grego, em que aprendi este pensamento: A epitemia
ai zince rou a tia. Daí não passo, não
vou além. Ah, sim, há uma segunda frase que
ficou do curso de grego do Colégio Pedro II, e que
mais do que nunca, se faz presente aqui: Aleti nos filosti
e zauros es tin (um verdadeiro amigo é um tesouro),
que virou lugar comum e esta Casa é uma casa de amigos.
Então, com o risco de intensificar,
por força da matéria a ser tratada, algum espaço
conflitante, espero não confirmar a radicalidade do
pensamento grego. E para tanto, vou me valer de uma medida
cautelatória. Solicito escusas antecipadas, se em alguma
instância do curso desta fala, incorrer na sensacionalização
do óbvio ou no excesso de algum radicalismo ideológico.
"Problema de língua, conflito
de paixões". Começo pelo último
termo do título: os estrangeirismos.
Estrangeirismos sempre estiveram presentes,
com maior ou menor volume, na língua portuguesa, como
elementos enriquecedores, emergentes do convívio Cultural
dos povos. Palavras e expressões imigrantes decorrem
dos rumos do progresso, em sua maioria, situam-se nos espaços
da ciência, da tecnologia, da diplomacia, e se fazem
indispensáveis. Tempo houve em que era freqüente
a referência à carreira diplomática como
a carrière, e parece que a carrière, apesar
da invasão inglesa nos domínios da diplomacia,
continua a ser uma referência de elegância.
Emergem também os estrangeirismos
das contribuições episódicas da moda,
e mais recentemente, da publicidade, seja como designação
de objeto concreto, de técnica, de modos de pensar,
de fazer e de sentir. Muitas delas passam a integrar o vernáculo,
ou seja, a língua transmitida, a língua que
se aprende em casa, desde os primeiros anos de vida. Língua
falada, língua viva. Outros simplesmente passam: não
vão além da efemeridade do modismo.
E os acréscimos freqüentam a
sintaxe e, com maior presença, a parte aberta do idioma,
vale dizer, o vocabulário. Marcante na língua
escrita, notadamente na linguagem literária, a presença
francesa, a partir do século XVIII ou desde o século
XVIII. Exemplos sintáticos franceses, de que o falante
usual, em geral, nem se dá conta: o uso da preposição
em instruções a que elas se incorporaram, como
por exemplo, "ensaio sobre a língua portuguesa"
- é uma construção que vem do francês,
e Lêdo Ivo está aqui para não me deixar
mentir - "fogão a gás", "entusiasmo
por Machado de Assis". Quem se lembra que essas construções
vieram da sintaxe francesa?
Os exemplos vocabulares são numerosíssimos,
aportuguesados ou não. Os "detalhes tão
pequenos de nós dois" também vêm
do francês, ninguém vai dizer "minúcias
tão pequenas de nós dois", de forma nenhuma,
que foi a proposta do tempo em que os detalhes eram ainda
galicismos. (Está chegando, para honra minha, o meu
presidente do PEN Clube, Marcos Almir Madeira, e chega oportunamente,
porque é o último baluarte da elegância
do galicismo na língua portuguesa, é o nosso
causeur por excelência).
Mas em homenagem ao nosso causeur, estou
lembrando aqui alguns dos milhares de galicismos incorporados
já, e porque incorporados, transformados em empréstimos,
pois a lingüística estabelece uma diferença:
o estrangeirismo que continua com a sua forma na língua
é estrangeirismo mesmo. Aquele que se veste de verde-e-amarelo
passa a ser empréstimo e se incorpora à língua.
Então, há uma distinção técnica
entre o estrangeirismo e o empréstimo. Entre os empréstimos
incorporados, além dos que citei, "ateliê,
"bufê", que deve ser dito "bufê"
e não "bifê", pois o "bifê"
já é francês. "Bufê",
com acento circunflexo. "Chofer", olha a traição
fonológica: "chofeur", não, "chofer",
tem que abrir. "Croquete", "buate", "filé",
porém o "mignon" não teve jeito, ficou
com g n mesmo, "à la carte", e essa confusão
nos deixa todos meio détraqués.
Exemplos ingleses na sintaxe. (Vou interromper
de novo, quem está chegando é o embaixador Afonso
Arinos, por favor). Há pouco, falava da carrière,
aí está - ainda bem que ele chegou depois, porque
podia me corrigir - um dos nossos embaixadores, dos que fazem
a carrière e honram a carrière no Brasil, Afonso
Arinos, acadêmico desta Casa. Então, exemplos
ingleses agora. Na sintaxe, pouca gente sabe ou se lembra
que a antecipação de um adjetivo a um substantivo
é influência inglesa, sobretudo na nomenclatura
de "Hotel". É muito comum dizer "Majestoso
Hotel", isso é inglês, mas, se não
quiserem este exemplo, há um outro, o substantivo com
valor de adjetivo, num mesmo hotel, aquele "Rio Hotel",
"Copacabana Hotel". Isso é um anglicismo
sintático, ou seja, os anglicismos vocabulares são
tão numerosos, que não preciso lembrá-los
neste momento.
O maior ou menor volume da presença
estrangeira na língua vernácula vincula-se,
portanto, à maior ou menor influência que a Cultura
de um país possa exercer sobre a Cultura de outro.
No caso do português, é importante que se diga,
os empréstimos, de qualquer ordem, nunca chegaram a
ameaçar-lhe, de fato, a integridade sistêmica.
Isso é que me parece importante: A língua como
um sistema, ou seja, um conjunto organizado. Se é um
conjunto organizado, se faz de princípios organizatórios.
Nesse território, palavra estrangeira nenhuma entrou,
já veremos por quê.
Mas momentos houve, por exemplo, na história
do português lusitano e do português brasileiro,
essas duas variantes nacionais da mesma língua comum,
em que a utilização de termos e expressões
francesas era traço de elegância e de finesse;
afinal, a Cultura francesa se impunha como modelar nesses
espaços. Freqüentava assiduamente reuniões,
alguns textos literários e a maioria dos documentos
diplomáticos - não é verdade, Afonso?
O vezo era tão grave no final do século
passado, que chegou a merecer a palavra equilibradora de Machado
de Assis. O criador do Conselheiro Aires assinala a divergência
de opiniões, declara-se favorável à abertura
do idioma e à influência da língua francesa,
desde que não destruam "as leis da sintaxe e a
essencial pureza do idioma". Está lá em
A língua, um texto antológico do Machado, como
antológico é um instinto de nacionalidade, em
que ele faz essa ressalva.
A presença inglesa, que já
se fazia sentir ao seu tempo, mobilizou o comentário
ameno de Eça de Queiroz, cujo centenário se
comemora este ano ¾ e aí está o Geraldo
França de Lima, que vai corroborar o que estou dizendo
¾ Eça de Queiroz que no fundo, era notabilíssimo
criador de dimensões novas incorporadas ao idioma.
(Vou parar em homenagem ao acadêmico Antonio Olinto,
faço questão de registrar a sua entrada aqui,
diretor desta Casa, como todos sabemos).
Então, Eça de Queiroz, um notável
criador de formas novas que enriqueceram a língua portuguesa,
não se furtava ao uso dos estrangeirismos, de tal forma,
que mereceu críticas terríveis por isso, e se
defendia galhardamente, e se defendia da mesma forma que Machado,
à luz do gênio da língua e do equilíbrio.
Cito um trecho curiosíssimo de um seu pronunciamento
a respeito de um verbo, que começava a querer entrar
na língua portuguesa, naquela época. Diz assim:
"Este vocábulo interviuar é horrendo -
interviuar é até difícil de dizer - tem
uma fisionomia tão grosseira e tão intrusivamente
yankee, como o deselegante abuso que exprime. O verbo entrevistar,
forjado com o nosso substantivo entrevista, seria mais tolerável
e de um som mais suave e polido".
Mas ele também não gosta do
entrevistar. Na seqüência do artigo, ele diz que
entrevistar em Portugal tem outro sentido, que também
não é uma palavra muito bonita, e ele então
pede aos brasileiros, com o seu poder de criatividade, que
inventem uma palavra nova. Os caprichos idiomáticos
do futuro, felizmente, agasalharam a "entrevista",
que também não era de seu agrado, como eu disse,
e muita gente se recorda hoje daquele anglicismo teratológico,
o interviuar.
O que se critica, desde essa época,
é a presença excessiva e redundante de termos
estrangeiros. Isto é que efetivamente provocava e provoca
preocupações e tentativas de correção
de rumos. Nascidas de quem? Obviamente, de especialistas e
de escritores, sobretudo em tempos de afirmação
de nacionalidade e de sedimentação do idioma,
sobretudo num tempo em que o nacionalismo ainda era uma virtude.
E alguns desses senhores eram puristas tão ciosos,
que chegavam a propor ações singulares para
substituir o termo estrangeiro como "anidropodoteca",
de saudosa memória ¾ "anidro", sem
água; "anidropodo", sem água nos pés,
"anidropodoteca" ¾ e chegaram a propor, para
substituir a francesa galocha, o ludopédio, ou balípodo.
Houve quem propusesse ludopédio, mas outros puristas
disseram: não, ludopédio, ludos, isso é
coisa latina; ludos, jogo; pés, pede; não, ludopédio
não, é melhor não. É melhor usar
balípodo, é mais grego, mais castiço.
Quando o foot ball, o elitista futebol, o
futebol começou elitista, quem conhece a história
do futebol sabe quem eram os jogadores do Fluminense, não
é à toa que ficamos pó-de-arroz. A galocha
perdeu presença, por absoluta superação
tecnológica. O futebol vestiu-se de verde-e-amarelo
e passou a integrar a Cultura, a mitologia e o imaginário
do brasileiro. E ainda comandou a naturalização
das palavras designadoras de outros esportes da bola: voleibol,
basquetebol ou cestobol, e até um curiosíssimo
hand ball, um hibridismo que está aí se impondo.
Curiosamente, o goal-keeper virou goleiro.
Nos bons tempos em que ainda praticava esse fabuloso esporte
bretão, o guarda-valas de Portugal ainda era goal-keeper,
que virou goleiro; o back virou zagueiro; o insider fez-se
meia-esquerda e meia-direita, e mais recentemente, médio-volante;
e os técnicos atuais estão mudando tudo isso.
Caprichos da integração entre
a comunidade e a língua de que ela se vale: a contribuição
individual, venha de onde vier, venha do especialista, venha
do escritor, e o escritor é criador de línguas,
sim. Eça de Queiroz não me deixa mentir, Machado
não me deixa mentir, e os escritores, vários
aqui presentes sabem disso, lançam no mercado verbal
um termo novo, e de repente, ele se coletiviza. Mas, para
ele se coletivizar, precisa atender ao que se chama tecnicamente
a deriva do idioma, ou se preferirem, o anglicismo drift,
ou seja a soma de tendências que fazem a língua
ser como ela é, aquelas tendências que figuram
e caracterizam a estrutura do idioma.
Qual é a parte da língua mais
sensível ao estrangeirismo? É o léxico,
é o vocabulário, porque ele é, inclusive,
extremamente insensível às variações
Culturais. Um exemplo recentíssimo citado por Rita
Marquilhas, consta do Atlas da língua portuguesa na
história do mundo, lançado no ano passado, e
se refere à palavra "sutiã", no seu
modelo sustentador tradicional, que mantém em Portugal
a forma francesa, soutien. Mas os derivados, nascidos das
oscilações da moda e dos avanços do mercado
internacional, passaram a designar agora aquela peça
por body ou top.
No Brasil, o top designa uma peça
similar, só que - as senhoras, por favor, e as jovens
elegantes me corrijam se estiver errado, a informação
é doméstica - é uma cobertura que vem
do abdome, da parte superior do abdome, até as protuberâncias
naturais a que se destina cobrir, não é verdade?
Então, isso é o nosso top. Mas, se o top designa
essa peça similar que se sobrepõe, o top também
no Brasil freqüenta a ausência; aparece no topless
e o topless está aí para ninguém botar
defeito.
O hibridismo, rigorosamente de acordo com
a deriva do idioma, é imediato na ânsia de apelo
das vendedoras portuguesas em Lisboa. É comum encontrá-las
a oferecer às freguesas este "bodezinho"
ou este "topezinho". Isso é complicador,
isso não agradaria a Eça de Queiroz, com toda
a abertura do juízo dele. Corante de bochechas, além-mar
e aquém-mar, era, nas gerações da terceira
idade, conhecido como carmim. As mulheres passavam carmim
nas faces ou nas maçãs do rosto, ao que tudo
indica francês aportuguesado, porque a origem é
sânscrita através do latim, e o francês
se apropriou, e possivelmente via França, chegou ao
Brasil carminando várias bochechas por aí.
Nas atuais senhoras de meia-idade o carmim
foi substituído pelo rouge, e o rouge, na juventude
de algum tempo, converteu-se em blush. A língua acompanha
a história da sociedade de que ela é o veículo
de comunicação primeiro. Vamos admitir, sem
mergulhar na complexidade da questão, e essa expressão
estou aqui insistindo nela, na sua complexidade. Quem estiver
interessado na complexidade da questão, pode ler um
ensaio excepcional, lido nesta Casa, que se chama Língua
e Filosofia, assinado por esse pensador da Cultura que se
chama Sérgio Paulo Rouanet. Está à disposição
de quem quiser, no também em boa hora inaugurado ¾
Centro de Memória desta Casa. É um texto primoroso,
que aprofunda em termos, porque filosófico, porque
discute filosofia da linguagem, aprofunda essas relações
interlinguageiras que marcam o mundo atual.
Sem mergulhar na complexidade da questão,
diria que a língua acompanha as mudanças da
sociedade e da Cultura em que se insere, e onde se desenvolve.
É exatamente em função do estágio
de desenvolvimento da Cultura ocidental na nossa contemporaneidade,
que emergem fundas preocupações, hoje, aqui,
agora. Por isso, dizia que a confusão "era mais
geral do que no enterro de Brás Cubas". É
uma preocupação que envolve as línguas
de Cultura modernas. As línguas de cultura modernas
totalizam talvez quarenta idiomas, hoje. Na verdade, até
1987, havia no mundo, registradas, seis mil duzentas e cinqüenta
e oito línguas, com uma morte gradual, por semana,
de duas línguas. A cada semana, desapareciam duas línguas.
Quando se diz língua, principalmente as línguas
que desaparecem, são as línguas ágrafas,
as línguas que não se escrevem, e porque não
se escrevem, têm muito pouca condição
de permanência.
Então, essas línguas, hoje,
devem estar em torno de seis mil. Dessas seis mil, de Cultura,
línguas capazes de traduzir pensamento universal, língua
adquirida nas escolas: quarenta. E dessas quarenta, possivelmente,
umas quatorze com alguma presença, e vão se
reduzindo, sete talvez de ponta. Não gosto de estatística,
mas deve ser por aí - não é, Afonso?
Mais ou menos. Então, a língua portuguesa, felizmente,
é uma língua de Cultura, e é exatamente
por ser uma língua de Cultura moderna, que provoca
essas preocupações.
Ao fundo da preocupação, o
desenho contemporâneo da Cultura mundial decorrente
da crise da modernidade, que vem desde o momento em que ela
começa lá no século XVIII, no final do
século XVIII, anunciando o retorno ao paraíso
através da razão e da ciência, através
das luzes da razão e da ciência, por isso mesmo
através do Iluminismo - o meu mestre aqui, se estiver
errado, me corrija -, mas essa modernidade, que começa
ali, começa a entrar em crise e essa crise se intensifica
nos últimos vinte e cinco anos, marcados pelo extraordinário
e acelerado progresso da ciência e da técnica.
Nos últimos cinqüenta anos, cinqüenta mil
novos termos técnicos e científicos entraram
no mercado lingüístico do mundo. Agora, essa ciência
e essa técnica são dimensionadoras de um sistema
integrador de espaços intercomunicantes, caracterizados
pela unicidade espacial e temporal: a unidade do espaço
e do tempo que cada vez se comprime mais.
Esses espaços se chamam eletrônica,
informática, cibernética. No comando, o computador.
Na condução da trama integradora, com notável
e avassalador destaque, a informação, sobretudo
veiculada na língua inglesa, que assume destaque dominante
por força da Cultura hegemônica do novo império
do nosso tempo: a Cultura dos Estados Unidos da América
do Norte.
Inegavelmente a Cultura hegemônica
do nosso tempo, polícia do mundo, a grande Roma - Scarlet
Moon de Chevalier acaba de chegar, muito obrigado pela presença
- a tal ponto, que é a segunda língua de quase
todos os países em que não é vernácula.
É uma exigência do progresso do mundo atual.
Como ser contra isso? Mas a informação, de fato,
vem exercendo notável influência sobre a visão
de mundo dos indivíduos, isso já faz algum tempo,
em função do processo de modernização
e do percurso do desenvolvimento econômico.
O comportamento humano, no bojo da sociedade
de consumo, tornou-se hétero-dirigido (dirigido de
fora), a partir de estratégias e táticas extremamente
sutis. Na decorrência, a automação, a
estetização dos produtos patrocinados pela mídia.
Desenvolve-se uma indústria do signo. Valoriza-se o
simulacro, que apaga a distinção entre o real
e o imaginário. Algumas anedotas são ilustrativas.
Conta-se que uma senhora estava num Shopping Center com a
sua filha, uma menina (deve ter sido no Paraná) loiríssima,
de olhos azuis, e alguém que passou disse: - Mas que
beleza, a sua filha é tão linda! Que menina
bonita, meu Deus!- A senhora está dizendo isso, porque
não viu a fotografia dela a cores.
Uma outra anedota, sintoma da crise, é
a do japonês (e olhem os japoneses, sempre os japoneses)
que está diante do espetáculo deslumbrante da
aurora boreal, maravilhoso, coloridíssimo, e ele filmando,
filmando, diz assim: - Ai, não vejo a hora de passar
isso no vídeo lá de casa -. A realidade não
tinha sentido, o que tinha sentido era o simulacro. E é
de simulacro que vivemos, é ver a publicidade, é
ver as campanhas eleitorais orientadas pelos especialistas
em marketing, não tem outra palavra, a palavra se impõe.
Como substituir, em mercado? Não é o caso, ou
seja, anestesia-se a sensibilidade das pessoas, condicionam-se
comportamentos. Esse é um grave problema do tempo,
hoje: expande-se a dimensão utilitarista do processo
de modernização; amplia-se, paralelamente, o
processo de desumanização; e caminha-se para
a solidão narcísica da navegação
na Internet, quando o contato físico-humano começa
a perder dimensões avassaladoras. Mas isso parece que
deve ser moda, o homem é, sobretudo, feito de carne,
de sentidos. Acho muito difícil que isso permaneça,
mas aqui estou fazendo apenas exercício de futurologia
barata.
Pouco a pouco, avoluma-se a crise da modernidade.
Para alguns, ela se intensifica a partir do final da Segunda
Guerra Mundial. Para outros, ela acontece, a grande crise,
num momento qualquer, entre 1960 e 1980. Ela é muito
mais visível nos chamados países desenvolvidos;
num país como o nosso, com uma singularidade plural
como somos, é muito difícil detectar o que é
moderno e o que não é moderno, porque aqui convivem
todas as condições sócio-culturais, a
da modernidade, ou até da pós-modernidade, convivem
com a realidade feudal de certas paisagens nossas no Nordeste,
não é verdade?
A agudização da crise desestruturadora
da modernidade vem na década de 90, quando a internacionalização
da economia capitalista ganha dimensões totalizantes.
Instaura-se o capitalismo transnacional globalizador, e aí
estamos nós, na década de 90, na plenitude da
chamada globalização, consolidadora da planetarização
do capitalismo. Recomendo um texto também do Sérgio
Paulo Rouanet a propósito disso, muito bom, que é
um livro chamado As razões do Iluminismo, onde esse
processo que acompanha a evolução do Capitalismo
está muito bem apresentado, num ensaio chamado As ilusões
da modernidade, se não me engano. Vivemos, nos últimos
vinte e cinco anos, um novo período na seqüência
sócio-histórica com que o raciocínio
humano discursivo procura entender e explicar os caminhos
da humana condição. Quero dizer que o raciocínio
humano exige dividir para compreender, e divide a História,
divide a vida, divide o mundo, em períodos. Vivemos
um período, em suas marcas, e aqui, evidentemente,
não vou usar, porque não é minha área.
Valho-me aqui da caracterização do geógrafo
Milton Santos, e com outras palavras, tentarei dizer como
se pode entender esta globalização.
A marca fundamental é a ação
humana mundializada, que justifica até a sua própria
designação. O contínuo conflito das variáveis
construtoras do sistema em que se configura. Explico. Cada
sistema é um período de variáveis, e
até os últimos vinte e cinco anos, essas variáveis,
mais ou menos, se integravam harmonicamente. Nos últimos
vinte e cinco anos, essas variáveis que integram o
sistema estão em conflito, estão de tal forma
conflitadas, que mesmo os senhores da globalização
já não têm domínio sobre ela ¾
dizem os especialistas.
O endeusamento da ciência e da tecnologia
é outro traço do nosso momento. A materialização
da existência, medida, sobretudo, por índices
estatísticos ou outro elemento, e óbvio, alguma
coisa positiva, o surgimento de novas ocupações,
novas formas de viver, mas também, novas atitudes,
novos valores, nova ética. Vivemos sob o império
da competitividade e vivemos sob a dominância de Narciso.
Nunca a humanidade foi tão narcisa, nunca a humanidade
procurou tanto na lagoa o seu reflexo, ou procurou no seu
próprio olho o reflexo da lagoa, que é para
ser muito mais narciso ainda, dentro de si mesmo, o reflexo
da realidade.
No horizonte, banalmente sinistra, a sombra
do pensamento único. O buscado retorno ao paraíso,
meta antiga, de lá do século XVIII, está
longe de ser realidade. Na dinâmica do processo e por
força da permanência do estado crítico
que peculiariza esse período, há quem admita
a possibilidade de rupturas e mudanças. Na base do
processo globalizante, o interesse do mercado, associado visceralmente
ao poder da informação. A informação
condicionadora, despótica, imuladora, na direção
do discurso unificador. No jogo do mercado, o dinheiro, até
com a emergência de uma nova moeda unificante, o eurodólar.
Na essência do jogo do capital, um dinheiro marcado
de fluidez, praticamente abstrato.
No âmbito da informação,
a presença unificadora do idioma geral: o inglês.
É aí que reside o perigo. E um novo espaço,
para além da televisão: a Internet. Novas conquistas,
não que isso não nos traga prazeres, condições
melhores de vida, nos ajude nas viagens, no convívio,
no todo dia, mas a essência maior, a configuração
maior é assustadora. Novas conquistas, dizia eu, novos
fatos, novos nomes, lançados e divulgados em língua
inglesa; 90% da literatura técnica e científica
do mundo hodierno, escrita ou traduzida no idioma inglês,
comprovam a sua relevância. Isso não é
desprezível.
Nesse âmbito não vou além,
para o sapateiro não ir além do sapato, para
não ultrapassar o limite do sapato. Tenho muito cuidado
com isso, até porque globalização é
um assunto que divide, radicalmente, opiniões: otimistas
e pessimistas. E também divide adjetivos como fabulosa,
mas não porque seja excepcional, (fabulosa no sentido
denotativo de presa a fábula, simulacro, falsa); perversa,
utópica, reversível, irreversível, são
esses adjetivos, mas já estou indo longe demais, e
até se ele estivesse aqui, ia pedir perdão a
ele, ao professor Celso Furtado, economista brasileiro do
século. Se o Rouanet estivesse aqui e o professor Cândido
Mendes também, não ousaria nem chegar a esse
ponto, porque eles são iluminadores destes percursos.
Então, vou voltar às águas
em que a navegação é menos tormentosa,
para dizer que o processo de globalização acelera
o desenvolvimento da Cultura de massa, em que se insere a
nova comunicação. Diante dele, duas fortes conseqüências:
de um lado, a extensão planetária de uma determinada
Cultura e o contato de Culturas distintas, numa acumulação
de umas sobre as outras, uma espécie de sincretismo
cultural. De outro, a emergência, até violenta,
de conflitos resultantes do reacender de manifestações
Culturais fortemente definidoras de etnias e comunidades,
e por extensão, conflitos de nações.
Daí aquele argumento anterior de que o período
se marca pelo conflito das variáveis que o integram,
e não pela harmonia dos elementos que o fazem. Nesses
espaços, e quem assinala isto, com outras palavras,
é a lucidez reflexiva de outro pensador de Cultura,
professor Eduardo Portella, as identidades Culturais vivem
instâncias de crise. Fica muito difícil, hoje,
desenhar-se a identidade Cultural de qualquer Estado-Nação,
de qualquer comunidade.
Cabe, a propósito então de
Cultura, considerar, e é importante que se diga em
sentido restrito, a Cultura "já feita", isto
é, antropologicamente, ou se preferirem, sociologicamente
falando, as formas de pensar, de sentir, de fazer, que o consenso
comunitário referendou como tal para aquela comunidade,
e como tal, representativa dessa comunidade. E é essa
Cultura "já feita" que a escola dissemina
em sentido restrito, a Cultura que se está fazendo
a cada momento no cotidiano do homem, sobretudo na atualidade,
até porque a atualidade marcada é por uma aceleração
vertiginosa do processo e pela compressão de tempo
e espaço, na direção da realidade virtual,
uma nova visão de mundo, uma nova realidade em que
todos estamos inseridos.
Essas observações conduzem,
imediatamente, à importância da soberania e da
nacionalidade, instâncias em que a língua ganha
singular relevância. Volto a Milton Santos e abro aspas
"Com a globalização, o que temos é
um território nacional da economia internacional, isto
é, o território continua existindo, as normas
públicas que o regem são da alçada nacional,
ainda que as forças mais ativas do seu dinamismo atual
tenham origem externa. Todavia, é o Estado nacional,
em última análise, que detém o monopólio
das normas, sem as quais os poderosos fatores externos perdem
eficácia". Isso nos garante. A soberania não
perece, o Estado-Nação resiste, é uma
entre ene visões abertas ao debate.
No caso da língua, há uma pergunta
(eu quase usava o lugar-comum), há uma pergunta que
não quer calar. A marcante presença da língua
inglesa, trazida e ampliada pelo processo de globalização
e pela popularização gradativa dos recursos
da informática, ameaça a integridade da língua
portuguesa? Representará um novo glotocídio,
tal como sucedeu com a língua indígena, a partir
do achamento do Brasil?
A resposta a esta pergunta, em termos pragmáticos
e imediatos, apóia-se, no momento, em conjecturas:
não existe nenhuma pesquisa conclusiva, nenhum estudo
que mostre os níveis de tais influências, pelo
menos na realidade brasileira. E tenho dúvidas de que
haja algo similar em terras de Portugal. Mas, para raciocinar,
vamos admitir que a ameaça exista em níveis
efetivamente preocupantes, diante de determinados indícios,
indícios esses que são perceptíveis através
da comunicação de massa, dos meios de comunicação
de massa.
Os quentes, os livros, e os frios, ou de
acordo com o grau de uso, o teatro, o cinema, o rádio,
a televisão, os discos, os cassetes, os videocassetes,
os computadores, e como gostava de dizer Antônio Houaiss,
os futurimídia, os que surgirem por aí, e ainda
em atividades e espaços setorizados, como a propaganda,
o comércio, a gíria de grupos de jovens, certas
modalidades de música. Estamos assistindo, em termos
de arte popular ou erudita, a um momento crucial, que é
mais ou menos o que acontece, historicamente, com todo final
de século. É aquela era da mediocridade, que
temos, a partir de determinados valores a que nos acostumamos.
Mas será que é mediocridade? Será que
temos o direito de avaliar assim, ou é apenas diferença?
Fica a pergunta.
Por que essas coisas são preocupantes?
São preocupantes porque os meios de comunicação
na sociedade de consumo, há muito tempo, atuam em favor
da universalização das línguas imperiais,
línguas que tendem a dominar sozinhas, ou como segunda
língua, via primeira língua, espaços
extra-imperiais. Ou a se superporem em espaços bilíngües,
trilíngües, multilíngües, provisoriamente
poliglóticos. Provisoriamente sim, uma vez que, se
a globalização seguir os rumos que alguns acreditam
que vai seguir, é dada por muitos como certa a universalização
do pensamento único e a presença unificante
do inglês. Não me incluo entre eles, mas há
muita gente que defende essa tese.
O atual processo de anglicização
revela-se, de fato, avassalador. O grave é que, nestes
momentos de globalização, a presença
do modelo alienígena se torna impositiva, porque mobilizada
pela força da informação, mais do que
nunca controlada e direcionadora. Cada passo, cada telefonema
de cada um de nós, hoje, são absolutamente controlados
por um sistema, cuja pronúncia não sei muito
bem dizer, mas creio que é échelon. É
um sistema montado de satélites e computadores, capaz
de localizar. Se o presidente da Academia fizer qualquer pronunciamento,
que precise ser conhecido de imediato no império, ele
será localizado e rigorosamente enquadrado numa tela
de televisão, em sua casa, com tudo que ele disse rigorosamente
detectado. Isto é muito sério.
Mas, esquecendo esse aspecto nebuloso, a
língua acompanha a marcha da sociedade que a criou
e que dela se vale. Situo-me entre os que acreditam que não
é a presença dos termos estrangeiros entre si,
no caso de língua inglesa, que põe em risco
a configuração do país como Estado-Nação,
não. Esta ameaça, ela se vincula à maior
ou menor inserção do país soberano na
qualificação modernizadora ou pós-modernizadora
do progresso. A língua é apenas um aspecto e
não é o mais importante.
E aqui valho-me, ainda uma vez, e com outras
palavras, da lição clarificadora de Antonio
Houaiss: "A língua portuguesa insere-se entre
as línguas de Cultura que contam com um suporte geográfico
e demográfico ponderável, tal como acontece
com o chinês, o espanhol, o russo, o árabe e
o inglês, e não acontece, ou não acontece
na mesma intensidade, com o alemão, o holandês,
o sueco, o dinamarquês, o norueguês, o hebraico".
É um bastião de defesa positivo esse traço,
esse suporte; é um bastião de defesa positivo,
em resistência à desfiguração,
mas a que se opõe um elemento de impasse.
O elemento de impasse é o seguinte:
ao longo do processo de modernização do Ocidente,
o português situa-se, em medida grave, entre as línguas
de suportes culturais precariamente apoiados, ou não
apoiados, por uma política de culturalização
crescente dos que falam, dos que lêem, dos que ouvem,
dos que escrevem. Isso na extensão do mundo lusofônico,
não é só no Brasil, não. Nesse
aspecto, a língua portuguesa está um pouco acima
do hindi e do indonésio. Aí é que se
instala a vulnerabilidade. Mestre Houaiss já destacava
esses fatos no início dos anos 80, e daqueles tempos
até o presente, muito pouca coisa se fez na direção
desta culturalização, de apoiar o desenvolvimento
da Cultura nesse nível.
Expansão territorial e densidade demográfica
não têm sido acompanhadas de expansão
cultural. Na medida em que o universo da lusofonia se vê
inserido no processo de globalização, sem a
contrapartida da modernização cultural, ou do
desenvolvimento paralelo da Cultura, a ameaça da glotofagia,
gradualmente, ganhará espaços. Portugal é
a exceção e a exemplo. A duras penas, há
algum tempo, vem tentando participar do processo modernizador,
até a ponto de, em sua condição de membro
da Comunidade Européia, uma das bases da tríade
sustentadora do processo globalizador, vir conseguindo dar
uma certa feição à sua língua
de cultura.
E um dos traços dessa maneira de dar
feição, de dar um desenho específico
à língua de Cultura, é a publicação
de livros. Portugal estava, nos anos 80, com o índice
de dois a três livros per capita, por ano. Curiosamente,
países que começaram a ficar independentes,
países de língua portuguesa ou em que a língua
portuguesa disputa ainda com outros dialetos crioulos locais,
mas que começaram a ter independência em 1975
e elegeram o português como língua de Cultura,
Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, Cabo Verde
e São Tomé e Príncipe, não falo
do Timor, que é recente, chegaram ao índice
de um livro per capita, por ano. Li recentemente, em notícia
da mídia, avassaladora, que, nos anos 90, o índice
brasileiro baixou para 0,8% per capita, per anum.
Mas vamos nos concentrar no nosso país.
Qual a realidade linguageira da nossa terra hoje, do Brasil?
Somos oficialmente unilíngües, ninguém
tem dúvida. O português é a nossa língua
comum, usada pela maioria da população, consolidada
como idioma oficial. É a nossa língua vernácula,
ou seja, aquela que aprendemos desde o nascimento. E aqui
já estou eu dizendo que não ia fazer, mas já
estou sensacionalizando o óbvio até por oportuno,
para acrescentar o seguinte. Na verdade, o português
brasileiro convive com cerca de cem a cento e vinte línguas
indígenas, em sua maioria ágrafas; para fins
de comunicação, convive também com línguas
trazidas pelos imigrantes, notadamente italiano, japonês,
alemão e árabe, usados na comunicação
familiar, com alguma imprensa e livros regularmente editados;
quadro a que se acrescentam a forte influência do inglês,
em geral, e a do espanhol, em determinadas regiões.
Um país unilíngüe, numa realidade multilíngüe,
com predomínio da língua portuguesa. Somos uma
realidade singular e plural.
Em tal circunstância, há no
Brasil/2000, falantes unilíngües: só falam
o português - a maioria - ou falam a língua indígena;
falantes bilíngües: falam o vernáculo próprio
e a língua comum, o português. O número
é pequeno. Falantes trilíngües: falam o
vernáculo, que aprenderam em casa, alemão etc.,
a língua portuguesa e uma terceira língua. São
raros. Falantes culturalizados poliglóticos (com perdão
da má palavra), que se valem do português e falam,
e não raro escrevem, três e mais idiomas; não
são relevantes, em termos de fala comunitária,
obviamente.
Por outro lado, cabe considerar, em função
desses usos que fazemos da língua portuguesa, língua
oficial, alguns aspectos fundamentais. Primeiro, considerar
duas faces da língua: a língua transmitida e
a língua adquirida. A língua transmitida se
faz das várias modalidades que o idioma põe
ao nosso dispor, as chamadas variações sócio-culturais,
regiográficas, regionais e expressivas, que fazem com
que a pronúncia e determinado vocabulário do
Nordeste, do Sul, do Centro, sejam diferenciados, mas diversidade
essa que não prejudica a nossa unidade.
No uso comum, na fala transmitida, se pode
dizer que o importante é adequar a fala à situação
de fala. Há um momento para cada palavra, há
uma palavra para cada momento. Há um momento para a
barriga, se nomeio os catarinenses de barriga-verde; há
um momento para ventre, se dialogo com a divindade, e "bendito
é o fruto do vosso ventre"; há um momento
para abdome, se vou a médico, porque, se for a médico
e disser que estou com dor-de-barriga, fica meio esquisito;
há um momento para bucho, quando uma boa peixeira não
vai furar abdome, vai perfurar o bucho; há momento
para bucho, há momento até para estômago
e suas variantes, estâmago e estômbago; e há
um momento para papo, "não quero outra vida, pescando
no rio de Jereré, tem peixe bom, tem siri patola de
dar com o pé, quando no terreiro faz noite de luar,
e vem a saudade me atormentar, eu me vingo dela, tocando viola
de abdome pro ar". Nem morto. Eu me vingo dela, tocando
viola de papo pro ar...
Então, há um momento para cada
palavra, uma palavra para cada momento na língua falada.
A língua escrita, não. A língua escrita
exige, como em vários momentos do convívio social,
a língua escrita exige a variante sócio-cultural
culta. É da nossa tradição. Essa variante
culta, que também é exigida em determinados
momentos do nosso convívio. Só consigo um bom
emprego, se dominar o culto; só consigo ascender socialmente,
se dominar o uso culto. Só consigo escolaridade mais
alta, se passar no crivo do vestibular ou do exame que fizerem,
até do provão, desde que domine, não
a língua, que essa eu falo e trouxe do berço,
mas tenho que dominar a variante culta, variante que a sociedade
referendou como representativa para esses casos. Então,
tem que considerar essas duas coisas.
A língua oralizada é a mais
vulnerável à influência alienígena,
na medida em que as situações de fala abrem-se
para as múltiplas variantes sócio-culturais,
que integram essa diversidade a que me referi. E por força
ainda da sua permeabilidade aos modismos incentivados pelo
comércio, pelo cinema, pela mídia, pela música,
pela publicidade, pelo mercado, principalmente pela música
popular. Além de degustar o fascínio da expressividade
do novo e dos modelos de uma Cultura bem-sucedida e aparentemente
garantidora de sucesso: como vencer na vida sem saber inglês?
Os nomes das lojas, os shopping centers, os fast foods, as
deliveries, povoam os outdoors da nossa cidade. Se mudar isso,
perde o charme - para usar uma palavra cara a Marcos Almir
Madeira.
Como resistir ao e-mail, o e-mail com essa
pronúncia quanto mais sofisticada, mais interessante.
- Vocês não querem meu e-mail? Já lhe
dei o meu e-mail? Isso funciona. E como não preparar
as mailing-lists para o casamento da filha? Contratei uma
promoter para fazer a mailing-list, sem o quê o casamento
não sai. E o efeito maravilhoso de dizer last but not
least, ao fim de uma argumentação? É
a glória. Encantos do fascínio do império,
compensações da dependência cultural e
por que não dizer, econômica? A gente inveja.
A língua escrita, não. A língua
escrita é mais conservadora e tradicionalmente apoiada
no registro culto, como disse, a não ser quando escrita
para ser falada. É um outro detalhe curioso, a língua
escrita para ser falada, porque a língua do rádio,
a língua da televisão, a língua da mídia
falada, a língua da TV e do rádio, é
uma língua escrita antes para ser falada, e ela adota,
sim, os estrangeirismos, mas em termos: a partir da sua efetiva
incorporação ao léxico do idioma, até
porque passível de autocontrole de quem escreve. O
léxico implica uso diversificado por parte do usuário.
Vocês sabem qual o vocabulário
médio do brasileiro menos culturalizado, vale dizer,
o brasileiro pouco escolarizado? Ele usa um vocabulário
que gira em torno de três mil palavras, apenas três
mil palavras, cujas combinações podem chegar
a trinta mil termos. A língua, essa língua portuguesa
nossa que, em 1943, em um dos primeiros dicionários
que foi organizado, totalizava quarenta mil vocábulos,
hoje coloca, à disposição do falante,
mais de quatrocentas mil palavras, e as possíveis combinações
levam a sete milhões de possibilidades ou mais.
Esse universo abriga, obviamente, um número
razoável de empréstimos, validamente incorporados.
A utilização desses milhares de termos depende
do domínio que o usuário tem da escrita e dos
instrumentos lingüísticos fundamentais, dicionários,
vocabulários, glossários. Ali está o
registro, ali está a fonte, onde quem escreve, quem
tem cuidado com a língua, quem quer falar bem e escrever
bem – com perdão do bem aí - vai lá
buscar nessa fonte.
Esse domínio configura um vocabulário
ativo e um vocabulário passivo. O primeiro é
sedimentado; o segundo, de marcada fluidez. É nesse
espaço aberto do idioma, o léxico vocabulário,
que o anglicismo atua com mais presença, e se impôs,
ao longo do tempo, como empréstimo válido por
força das conquistas científicas e tecnológicas
da modernização. Ninguém, nem o mais
rigoroso dos puristas, pode impedir, nem o deputado - estão
tentando fazer uma lei para multar quem use anglicismo -,
nem a legislação oficial, nem a legislação
cartorial vai impedir o uso comunitário de palavras,
ainda que possa até ser durante um tempo, durante a
moda. Mas, oficialmente, se impedirá a comunidade de
usar air bag, apartheid, bacon - não vai dizer bacon
and eggs, vai dizer bacon e vai escrever bacon, que ainda
não foi autorizada.
Beagle (a minha cachorrinha beagle vai ter
outro nome?), beatnik, best-seller (quem não gostaria
de ser best-seller, hem, Ivan Junqueira? Se vendesse todos
os seus livros de poemas já pensou?). Blazer (blazer,
essa coisa elegante), byte, bypass, catch, cassette, videocassette,
check-up (fazer um check-up), chip, crawl, delivery, dopping,
e-mail, factoring, fashion, feed-back, flash (aliás,
o flash andou freqüentando umas reuniões aqui
na Academia, recentemente. Ouvi alguém dizer, numa
reunião da Academia: um rápido flash. Quer dizer,
a palavra se impôs). Franchising, freezer, hacker, happening,
heavy metal, hobby (não o cor-de-rosa, por favor),
home-page, hover craft, input, jet ski (saudosa memória),
jogging, kit, layout, lead, leasing, lift, lobby, marketing,
off-line, on-line, mouse (que os portugueses estão
traduzindo como rato: - Já moveste o rato? Não
é verdade? Carlos Nejar conhece bem, está indo
para o Porto, sabe disso). Open market, overdose, piercing
(meu Deus do Céu!), overnight, teleprompter (não
há âncora, hoje, que viva sem teleprompter),
punk, funk, ranking, replay, rock, royalty, rush, scanner
(ah, meu Pentium-3 não veio com scanner, é horrível),
self-service, sex-appeal, shimmy (que enriquece todas as oficinas
de carro), show (ah, mas tem espetáculo, mas vou assistir
ao espetáculo da Maria Bethânia? Show é
muito mais forte), skate, skinhead, slogan, songbook, talk
show, trailer, underground, videoclip, videogame, western,
yuppie, zoom. Western, num determinado momento, era tão
poderoso, que um professor de Literatura, ao falar dos regionalistas
- viu Lêdo Ivo?- escreveu assim: "A nossa literatura
do Nordestern". Você vê até onde vai
a influência inglesa.
E aí as aportuguesadas: bandeide,
beisebol, bife, buldogue, caubói, copidesque, dólar,
drible, estresse, futebol e por aí vai. Então,
qual é a novidade preocupante? Já estou de olho
aqui no relógio e quero ser inglês, porque a
Academia, a Academia tem um zelo maravilhoso pelo cumprimento
rigoroso dos horários. Só há duas realidades
no Rio de Janeiro, que cumprem horário rigorosamente:
as barcas da companhia que vai a Paquetá - porque não
é só o João Ubaldo que tem ilha, eu também
me permito freqüentar uma. (O João Ubaldo freqüenta
a ilha de Itaparica, a minha é menorzinha, aqui do
lado da baía). As barcas de Paquetá cumprem
rigorosamente o horário e a Academia. As reuniões
da Academia são rigorosamente dentro do horário,
todos os ciclos aqui começam, pontualmente, às
17h30m.
Mas a novidade maior que preocupa, realmente,
é a presença avassaladora por causa dos novos
motores do desenvolvimento científico e tecnológico,
que são a informática, a cibernética
etc., e o ciberespaço. É uma preocupação
que não se limita ao mundo da lusofonia. A França
tem, inclusive, tomado medidas protetoras a respeito da incolumidade
da língua nacional, mas a França tem um território
pequeno. Aqueles dados que citei antes, da expansão
territorial da densidade demográfica, não a
defendem, e mesmo assim, a Tour Eiffel que está lá
como símbolo da França, com grande resistência
de uns e apoio de outros, está sendo conhecida atualmente
como um gadget de Paris. Com todo o esforço que se
faz para evitar, não adianta, o inglês chega
e se impõe, até se impõe porque vocês
sabem quantos vocábulos estão disponíveis
na área de informática para nosso uso? Sete
mil e seiscentos vocábulos dicionarizados, aliás,
mais de sete mil e seiscentos vocábulos entre bytes
e chips, software, hardware etc.
Agora, será que a gente vai se preocupar
tanto com isso? Não. A meu ver, a opinião é
pessoal, a preocupação centrada no problema
corre um risco: deslocar o núcleo da questão.
A questão da ameaça à soberania não
está na língua; a ameaça à soberania
envolve dimensões de caráter ético, político,
econômico e administrativo.
Na palavra segura e respeitável de
uma das maiores inteligências deste país ¾
espero estar sendo fiel ao seu pensamento ¾ num pronunciamento
que fez na vídeo-conferência a que se referiu
nosso presidente, ele disse o seguinte: "A questão
opõe, como elementos polarizadores, defesa como Cultura
e defesa como mercado". Palavras de Celso Furtado, que
anotei naquela ocasião. Nessa direção
é que cabe a resistência da identidade, na atualidade
do mundo interdependente. É buscar o convívio,
mas sem perda da sua identidade. É através das
estratégias e táticas do mercado, que a atual
transnacionalização provoca a excessiva presença
das palavras universalizantes do inglês. Excessiva é,
no caso, adjetivo nuclear.
No comércio, na publicidade, na propaganda,
na música, na ilusão do simulacro, as contribuições
da ciência e da tecnologia terminam por se fazer indispensáveis
- e ninguém vai se fechar a elas, seria fechar-se ao
mundo e ao progresso - quando não encontram contrapartida
vernácula, ou quando, por um forte poder de sedução,
mobilizam os usuários do idioma. E de certa forma,
se fazem enriquecedoras, como demonstra o excepcional - faço
justiça a esse trabalho, que não é de
um semanticista, que não é de um filólogo,
mas que eu li e representa uma excelente contribuição
nessa direção. Um trabalho que, hoje, se transformou
quase que em leitura obrigatória, para quem queira
falar de estrangeirismos em qualquer língua: o primoroso
e alentado Palavras sem fronteiras, dezesseis mil exemplos
de palavras e expressões legitimamente aproximadoras
de cultura, livro publicado pelo embaixador Sergio Corrêa
da Costa, acadêmico desta Casa, e que, de certa forma,
nos faz lembrar as lições de Machado e de Eça
de Queiroz: o equilíbrio, a preservação
do gênio da língua.
Claro está que a preservação
da unidade na diversidade, que caracteriza o português,
como caracteriza outras línguas, não é
privilégio nosso, se deve a certos fatores que têm
permitido o seu enriquecimento, sem prejuízo de sua
integridade como sistema, e como meio de comunicação
identificador.
Por um lado, graças a Deus e à
nossa História como povo, permanece ativo o instinto
de nacionalidade, apontado ainda por Machado de Assis, fundador
desta Casa. É um traço que a globalização
ainda não conseguiu descaracterizar, e dificilmente
o conseguirá, principalmente, enquanto cultivarmos,
como cultivamos, nossas metodologias, e sobretudo, enquanto
permanecer ativa a literatura brasileira. É a ela que
se deve a corporificação e a manutenção
do complexo mitológico brasileiro, isto é muito
importante, e por isso, ela deve permanecer prestigiada. Insisto
nessa frase, porque parece que há no ar um boato de
desprestígio, ainda não se tem nenhum elemento
para dizer isso com segurança, e com a garantia - aí
é que mora o problema - do seu lugar na escola, na
rede, na grade curricular. Um povo sem literatura é
um povo vulnerável à descaracterização
Cultural. Língua e literatura interagem no processo
lingüístico comunitário. Desde os poemas
e o teatro de Anchieta, desde o texto fundador da Carta de
Caminha, para usar aqui a feliz expressão do professor
Cândido Mendes de Almeida.
Por outro lado, dificilmente a influência
do inglês atingirá o sistema língua enquanto
tal. Sequer a norma corre o risco de ser atingida. As dimensões
fono-morfo-sintático-semânticas, que singularizam,
por sistêmicas, a língua portuguesa, não
se abrem a inserções alienígenas. São
episódicas. Por exemplo, um caso episódico famoso
é o caso de gol. Qual o plural de gol? O plural de
gol com acréscimo do s seria a norma, mas, em português,
não se acrescenta s à consoante. Gols fere o
sistema, contraria os princípios de pluralização.
Gois e goles foram propostos, mas não perduraram. Dois
gois, dois goles. Há uma proposta substitutiva: tentos.
Ganhou por dois tentos. Também não vigorou.
Sabe qual é a solução? A língua
escrita prefere registrar o resultado do jogo: Flamengo 2
x 0, acabou.
O que pode ocorrer num futuro não
muito próximo, por força das exigências
do efetivo e anunciado convívio universal, não
podemos fugir dele, é o retorno similar a uma situação
que o Brasil viveu nos seus primórdios: a convivência
do português vernáculo, português usado
em casa, na comunicação oficial, e do inglês
como "língua geral", usada no comércio,
na linguagem dos computadores, na informática em geral.
Língua de mercado mundial, tal como aconteceu com o
tupi, gramaticalizado pelos jesuítas. Só que
essa nova língua já chega pronta e como paralela
à língua de Cultura. Em termos de bilíngüismo,
sem essa configuração espacial, esse duplo convívio
parece brincadeira, mas esse duplo convívio já
está acontecendo, há algum tempo, na Holanda.
Por outro lado ainda, os brasileiros não
nos guetificamos, não corremos o risco que corre o
inglês nos domínios do próprio Império,
com a língua oficial ameaçada pelo espanhol
e pelo italiano. Lá em Nova York, é muito comum.
E há várias construções, há
várias expressões faladas em Nova York, que
misturam o inglês com o espanhol, de uma maneira bastante
preocupante. Na verdade, língua se vincula a processo
cultural, cultura implica comunidade.
Eu assino embaixo a precisão e o realismo
desse trecho, volto a ele para dar à minha fala uma
certa segurança e erudição, cito mais
uma vez Sergio Paulo Rouanet, agora ipsis litteris, já
que estamos falando em empréstimos: "No ciberespaço
e no mundo globalizado, a língua universal é
o inglês. O capitalismo transnacional está realizando,
à sua moda, o sonho universal de desfazer Babel. Mas
isso não pode significar o fim do pluralismo lingüístico.
Sem nenhum chauvinismo, é um fato objetivo que, só
na língua materna, podemos exprimir plenamente o nosso
pensamento e as nossas emoções. Isso é
válido mesmo para pessoas bilíngües ou
trilíngües, que têm, não uma, mas
duas ou mais línguas maternas. Sua competência
se limita a essas línguas, não se estendendo
no mesmo grau às línguas aprendidas posteriormente".
Cumpre que continuemos a ser (estou terminando),
nós os brasileiros, oswaldianamente antropofágicos.
Há que deglutir o termo estrangeiro, quando necessário.
Vestir de verde-amarelo as palavras e expressões que
não encontram contrapartida ou que sejam exigência
do progresso científico e tecnológico, ou manter
a forma original daqueles que, indispensáveis, sejam
rigorosamente intraduzíveis. Alguns termos e expressões
certamente irão impor-se, independentemente de qualquer
controle, ao capricho do idioma, e até vão conviver
com suas contrapartidas vernáculas ou com as formas
naturalizadas. Isso já acontece, por exemplo, com shampoo,
que se escreve em inglês, e se escreve também
com x, xampu, e as duas ainda convivem. Se existe similar
para o termo ou construção estrangeira, ou se
disputam sinônimos, uma boa prática é
dar preferência ao produto brasileiro. Caso contrário,
prefira-se a forma aportuguesada, se já estiver coletivizada
ou consagrada, ou use-se a palavra no idioma original, entre
aspas, ou em grifo, e se na escrita à mão, sublinhada.
Essa é a prática da tradição.
Mas a assunção não é
arbitrária, nem individual. Quem avaliza a coletivização
e a naturalização, quem dá carteira modelo-19
para a palavra estrangeira, é um bom Dicionário
e, por tradição e por legislação,
o Dicionário da Academia Brasileira de Letras, o Vocabulário
da Academia Brasileira de Letras. São a necessária
referência, a segurança contra o império
do caos. A assunção comunitária, entretanto,
é caprichosa e, à luz dos princípios
estabelecidos, faz suas escolhas. Um exemplo entre muitos
é abajur, que deixou de lado o quebra-luz; o outro
é o já citado sutiã, que também
jogou para escanteio o deselegante porta-seios.
Há um problema, hoje. Bom, e como
é que fica um caso como deletar? Está em pauta:
delete, deletar. Deletar é tecnologicamente exclusivo.
Diria o seguinte: com deletar e outros termos da linguagem
do computador vai acontecer uma coisa interessante. A língua
abriga naturalmente (só para dar um exemplo) apagar
e destruir - está certo -, mas esses verbos têm
uma ampla abrangência semântica: apagam-se manchas,
letras, sentimentos, amores, sofrências, um sem-número
de vicissitudes da humana condição; destroem-se
barreiras, edifícios, reputações. Deletar,
não.
Deletar é tecnicamente exclusivo:
eliminar da tela e do arquivo do computador. E mais, atende
à deriva do idioma, a forma inglesa tem algo em comum
com o português: a mesma origem latina, o verbo delere
(deleo, deles, delevi, deletum, delere), que significa apagar,
raspar, destruir. Delenda est Cartago, verberava Catão,
na antiga Roma: Cartago deve ser destruída. Portanto,
o verbo tem uma tradição comum, atende à
deriva, tem uma significação específica,
dificilmente ele deixará de ser abrigado, mas baipassar,
nunca. Bypass gerando baipassar fere a deriva do idioma, essa
não tem a menor condição de se incorporar.
O que não pode, nem deve ser destruído
por descaso, ou por incúria, é a unidade da
língua portuguesa, como língua de Cultura. Unidade
na diversidade, diversidade na unidade. E quem são
as agências? Não é a legislação
oficial, não é uma lei que vai definir isso.
O que é necessário fixar, isso tem que ser fixado
pelas entidades que têm condição de fazê-lo,
as agências culturais que podem fazer isto, que podem
fazer isto o quê? Podem garantir a fixação
de uma política do idioma. Se a escola e os veículos
mediados podem contribuir para a preservação
¾ e a escola é a agência cultural por
excelência nesse sentido ¾, ela precisa que outros
organismos fixem uma política do idioma. Essa é
a grande batalha da escola, no sentido de nos levar àquela
culturalização desejada para eliminar os vinte
milhões de analfabetos, absolutos ou funcionais, não
vou discutir a estatística. O absoluto é aquele
que não escreve, não lê, e o analfabeto
funcional é aquele que apenas assina o nome.
A atuação na direção
da preservação da língua portuguesa como
língua de Cultura, e a sua inserção entre
as línguas de ponta, por força dos falantes
ecúmenos que fazem dela a sexta língua do mundo,exigem
a atenção na língua falada, mas especialmente
na língua escrita. E para que a comunidade como um
todo se una para preservá-la, ela precisa trabalhar
na direção, repito, desta fixação
de uma política do idioma. Isso cabe à Academia
Brasileira de Letras, de direito e de fato, em trabalho conjunto
com a Academia das Ciências de Lisboa, a Academia Brasileira
de Filologia, e outras entidades congêneres dos demais
países que integram a comunidade lusófona. Ouvidos
os Centros de Estudos de nível universitário,
os especialistas, aí então se realizará
o grande sonho de Antônio Houaiss e de Celso Cunha.
Ambos tiveram assento nesta Casa, e durante todo o tempo,
lutaram por este trabalho de fixar uma política que
seria orientadora, não apenas da escola, mas também
da escolha dos livros didáticos, das escolhas das premiações,
dos provões da vida. Sem referência, a coisa
volta à confusão de todos.
A Academia já vem fazendo uma parte
de seu trabalho, com o relançamento do Vocabulário
Ortográfico da Língua Portuguesa, do Vocabulário
Onomástico, e o grande passo que foi dado no momento
histórico, inegavelmente um momento histórico,
que foi a videoconferência a que se referiu nosso presidente,
a qual inaugurou a comunicação, por cabo da
Embratel, unindo dez acadêmicos portugueses e dez acadêmicos
brasileiros por delegação, para apontar os primeiros
dados, os primeiros passos na direção de um
trabalho conjunto.
Digo os seus nomes ,por justiça histórica.
Na terra de Camões, Américo da Costa Ramalho,
Maria Helena da Rocha Pereira, Adriano Moreira, João
Málaca Casteleiro, Aníbal Pinto de Castro, Fernando
Cristóvão, Raul Miguel Rosado Fernandes, João
Bigotte Chorão e José Pina Martins. No Salão
Nobre desta Casa, os acadêmicos presidente Tarcísio
Padilha, Arnaldo Niskier, Candido Mendes de Almeida, Celso
Furtado, Eduardo Portella, Evandro Lins e Silva, João
de Scantimburgo, Josué Montello, Miguel Reale e Nélida
Piñon.
De um lado, naquele momento ampliava-se o
horizonte da comunicação no Brasil, notável
abertura para a língua portuguesa. Do outro, firmava-se
na defesa da integridade do idioma, como língua de
Cultura e da comunidade lusófona, uma posição
definida, clara, e o que ganha ainda maior significação
– minha última frase - à luz da consciência
de que a identidade se faz no convívio da indiferença.
Fico aprovado.
Obrigado a todos pela gentileza da atenção
e pela paciência com que me ouviram. Talvez não
tenha conseguido eliminar a paixão das minhas palavras.
Mas fecho como comecei: "Problema de língua, conflito
de paixões". Eu me abro para o conflito enriquecedor.
Muito obrigado.
TARCÍSIO PADILHA – Passaremos
imediatamente aos debates. Aqueles que quiserem participar,
é só se manifestar, levantar a mão, e
o microfone irá com o funcionário.
PLATÉIA (Marco) – Boa-noite,
meu nome é Marco, ouvi atentamente, mas, sobre o imperialismo
sou contra, porque o brasileiro também é imperialista
com um boliviano, um peruano, produtos econômicos. Já
fui ao Peru, imperialista brasileño, fui na loja e
tudo era tergal; na época em que fui, era tergal, nescafé
e tudo. Então, o brasileiro não vê essa
problemática, ele acha que só...
TARCÍSIO PADILHA A sua pergunta, por
favor.
PLATÉIA (Continuação)
– A minha pergunta é que tudo que você
falou está num limite, num teto, você não
passa, porque tem a língua internacional, que é
o esperanto para todos os povos, da qual participo, a língua
internacional com que escuto o rádio da China, da Europa
Oriental, é essa a verdadeira globalização,
o resto é blá, blá, blá.
DOMÍCIO PROENÇA FILHO –
Você tem um comentário. Eu disse: a identidade
se faz na diferença; eu disse: problema de língua,
conflito de paixões. Há quem defenda, como você,
o esperanto como a língua internacional, há
quem diga que o esperanto não tem condição
de ser língua internacional, porque é uma língua
artificial, e a língua precisa do embasamento da História.
Todas as palavras de uma língua nascem carregadas de
História. A língua do esperanto se vale do latim,
de outros idiomas, para tentar um veículo de comunicação
comum.
Há quem combata, há quem defenda,
outros acham que se deve voltar ao latim, que o latim seria,
por excelência, a língua universal. Outros consideram
que é um arcaísmo isso, voltar ao latim como?
Mas se temos um sem-número de línguas neolatinas,
haveria um elo comum que nos aproximaria, universalmente.
Mas tudo isso deixa de ter presença e força,
diante da marcha inexorável do progresso.
Você não pode conter a História,
há quem ache que a História acabou. Não,
a História não acabou. O que está acontecendo,
segundo alguns, eu me incluo entre eles, é que se está
construindo uma nova História e a História,
hoje, está se fazendo num novo discurso, ela agora
está se fazendo numa nova linguagem. Há um meta-discurso
da História hoje, que vai construir outros espaços,
talvez a gente não veja esses espaços, mas isso
é um processo.
Fica muito difícil, Marco, ter uma
visão do que acontece hoje. Pense assim: se você
está diante do Pão-de-Açucar, ali embaixo,
na base do Pão-de-Açúcar, olhando para
cima você tem perspectiva? Não. Você precisa
ficar um pouquinho distante, talvez na enseada de Botafogo,
talvez um pouco mais distante, para que possa ter a idéia
geral do Pão-de-Açúcar, no contexto da
enseada. No contexto das línguas internacionais, é
preciso distância para medir exatamente até que
ponto o esperanto é o Pão-de-Açúcar
ou é o Corcovado.
TARCÍSIO PADILHA – Alguma outra
pergunta?
PLATÉIA – Boa-noite. Fiquei
muito feliz quando o palestrante colocou a questão
da literatura brasileira para a preservação
da língua portuguesa. Infelizmente, a gente verifica
que a Secretaria Estadual de Educação do Estado
do Rio de Janeiro retirou a disciplina Literatura do seu currículo.
Por acaso, a Academia Brasileira de Letras tomou alguma posição?
DOMÍCIO PROENÇA FILHO –
Pergunta para a Academia, o presidente responde.
TARCÍSIO PADILHA – A Academia
Brasileira de Letras não interfere, diretamente, na
elaboração de currículos e programas
escolares. Evidentemente, seus pronunciamentos, seus estudos,
são sinalizações da própria língua,
no sentido de preservá-la, no sentido de registrar
o seu enriquecimento. E a forma de preservar, como já
foi aqui mencionada pelo ilustre conferencista, é,
por exemplo, a edição de um Vocabulário
Ortográfico, de um Dicionário, os livros das
suas coleções, suas revistas e pronunciamentos,
conferências como, por exemplo, aqui se realiza este
Ciclo, que é um esforço de meditação
em torno desta prioridade inquestionável, não
só para esta casa, mas para o país, que é
o debate em torno da língua portuguesa. São
formas culturais de atuação e não formas
burocráticas de interferir no curso educacional convencional.
Alguma outra pergunta?
PLATÉIA – Por gentileza, gostaria
de saber do ilustre palestrante a sua opinião a respeito
das declarações de um lingüista americano,
se não me engano, americano, que, nas páginas
da Veja, previu a extinção da língua
portuguesa para daqui a duzentos anos?
DOMÍCIO PROENÇA FILHO –
Fez um exercício de futurologia, não é?
Olhe, num dos trechos aqui do que ia dizer, tinha incluído
uma referência ao espanhol como língua de fronteira.
Acho que, nesse sentido, como as duas estruturas, português
e espanhol, são muito próximas, a contaminação
pode se dar com mais evidência até do que com
a presença do inglês. Mas acho muito difícil
que isso aconteça, porque, na base da influência,
está a condição cultural, percebe? Então,
no jogo que preside a relação entre as várias
culturas, diria até com um pouco de otimismo, enquanto
elas estiverem em paralelo, fica muito difícil. E se
uma se hegemoniza, é muito difícil que a outra
língua se apresente como dominante.
Isso aconteceu no tempo do latim, por uma
razão muito simples. O latim era uma língua
muito melhor organizada, muito mais musical, tinha uma estruturação,
tinha uma história, tinha uma história escrita,
que a língua do dominado não tinha, a língua
das províncias que foram conquistar. No caso, não
há província a conquistar, a não ser
economicamente etc. Não há oposições
culturais marcantes e as duas línguas estão
no mesmo estágio. Então, o que vai acontecer
daqui a trezentos anos ou daqui a quinhentos anos, dificilmente,
a gente pode prever. Mesmo um lingüista, com todo respeito
à argumentação, eu li a argumentação
dele, não encontrei fundamento efetivo, porque o que
falta, em termos de língua, no Brasil e na Latino-América,
é pesquisa. Nem sabemos direito que português
nós falamos. Não existem estudos que digam qual
é a língua padrão brasileira.
Por exemplo, qual é a pronúncia
melhor do Brasil? Qual é a língua culta brasileira?
Há um projeto em andamento, projeto da norma urbana
culta, que há dezenas de anos está em desenvolvimento,
mas não chegou à conclusão ainda. Até
porque, numa realidade em que a dialetologia brasileira, tanto
em termos horizontais, como em termos verticais, é
dificílima de você fazer pesquisa. Então,
não há um desenho do português, não
há um desenho do espanhol. Como é que você
pode prever o que vai acontecer? Acho difícil, mesmo
para um lingüista.
TARCÍSIO PADILHA – Uma outra
pessoa para haver maior participação. Alguém
mais deseja? Por favor. A última pergunta.
DOMÍCIO PROENÇA FILHO –
Um colega filólogo, Paulo, da Academia Brasileira de
Filologia. Agora, a coisa vai pegar fogo; vai falar o filólogo,
já estou tremendo aqui, conheço o orador.
PLATÉIA (Paulo) – Entretanto,
já vai longe a hora, e conseqüentemente, gostaria
apenas, em vez de fazer perguntas, de dizer o mínimo.
Primeiro, como você bem sabe, sou um apaixonado da pureza
da língua portuguesa, não do purismo, que é
evidentemente a demasia, mas, muito próxima da demasia,
está a pureza. E a pureza da língua, você
bem disse, ela se divide em léxica, semântica,
prosódica, fonética, e sobretudo, semântica
e sintática. O que precisamos verificar é que
é mister manter a pureza semântica e a pureza
sintática. Há alguém aqui que já
teve essa oportunidade de ler uma obra minha, longa, e que
me ofereceu lindo prefácio. Vai sair. É Carlos
Nejar. Na minha obra aqui na Academia, tive os dois prêmios:
de Literatura e de Arte de Falar em Público. Pois bem,
ele viu que uso a pureza, do início ao fim da obra.
Portanto, na parte relativa ao léxico, francamente,
o que está faltando é que os especialistas se
incomodem, se valham da oportunidade para apresentar exatamente
as palavras vernáculas. Por exemplo, lembro apenas
uma de que você falou, também lembro de outras,
mas você falou na galocha. Ora, nós tivemos a
impermeável, essa expressão foi muito usada:
vou comprar umas impermeáveis. Naturalmente, as pessoas
comuns não sabiam o que eram impermeáveis, mas
as pessoas, como nós outros, sabemos o que era impermeável.
Por conseguinte, temos a necessidade de tradutores.
Quando eu estava fazendo a Universidade de Paris, lembro-me
bem, na época de De Gaulle, que De Gaulle colocou uma
determinação oficial contra o franglais, isto
é, o francês/inglês, tal a invasão
de anglicismos na língua francesa. Pois bem, aqui não
precisaríamos dessa determinação tão
grande, salvo da própria Academia Brasileira de Letras.
Portanto, antes de tudo, vim não para dizer o que penso
no total disso, mas para ver a sua figura, para ouvir a sua
voz, e sobretudo, para ouvir-lhe a sabedoria. Felicidades.
DOMÍCIO PROENÇA FILHO –
Obrigado, agradeço lisonjeado, inclusive, porque você
se colocou numa posição discordante, e é
muito bom que a gente discorde, porque é da discordância
que nasce, naturalmente, uma iluminação maior.
Mas só queria dizer uma palavrinha: língua é
comunidade. Você falou que as pessoas comuns não
usavam impermeável, é aí que pega, percebe,
Paulo? É que as pessoas comuns é que fazem a
língua. Não sou eu, não é você,
não é a Academia. A Academia pode determinar
o que ela quiser, o legislador pode determinar o que ele quiser.
O que a Academia pode fazer, como disse muito bem o professor
Padilha, é dar orientação, sugestões.
Nem a nomenclatura gramatical brasileira
foi obrigatória. Foi sugerida. Nem a nomenclatura,
que não é tão profunda. Língua
é alguma coisa que emerge da própria comunidade,
ela é feita por quem fala, ela é feita pelo
povo. Não tem jeito. É aquilo que o Bandeira
dizia, contrariando totalmente a sua argumentação:
"Língua errada do povo, língua certa do
povo, porque ele é que sabe falar a língua do
Brasil".
Eu lhe respondo com Bandeira, e a gente continua
essa discussão depois.
TARCÍSIO PADILHA Uma palavra de encerramento,
em primeiro lugar, para sublinhar a riqueza da conferência,
em que o conferencista teve, realmente, a sensibilidade de
compreender que esta problemática que ele abordou deveria
receber, naturalmente, um tratamento interdisciplinar. A matéria
Cultural é extremamente complexa e ocorre que vivemos
um grande desafio Cultural dos nossos dias, porque, quando
se fala em Cultura, Cultura é um processo de maturação,
um processo de sedimentação, e o tempo corre
célere demais.
De modo que é uma espécie de
contraste entre essa necessidade de maturação
e o tempo de que não dispomos para propiciá-la.
Então vivemos aí esse momento de contradição
aparente, digo aparente, porque se trata de um processo, e
um processo é uma transição, e não
creiam que a transição é algo de excepcional.
Costuma-se dizer: adolescência é um período
de transição. Para mim, nada mais errado. A
transição é a própria vida, todos
os momentos da vida, todas as fases da vida configuram a transição.
Estamos a mudar, tudo muda, nada permanece, dizia lá
o velho Heráclito, para caracterizar exatamente essa
dinâmica do ser. E se o ser é dinâmico
por natureza, a língua através da qual os seres
humanos se expressam não poderia fugir a esse dinamismo.
Então, a língua se constrói,
a língua está sempre in fieri, é um eterno
werden, é uma mudança perene, a sua situação
é de um provisório, de um temporal que vai sempre
se afeiçoando, se acomodando, se ajustando exatamente
a uma conjuntura social, política, econômica,
religiosa, ética, que vai sofrendo também transformações
ao longo do tempo, de tal maneira, e aqui o conferencista
teve a sabedoria de compreender esse processo, e por conseguinte,
de não acreditar no império soberano de uma
determinada língua, ainda que ela tenha uma grande
presença, e muito menos, na possibilidade de um pensamento
único.
A singularidade do ser humano reage a toda
e qualquer tentativa de unificação do pensamento.
O pensamento cada vez é mais complexo, o paradigma
da simplicidade já era. Aquilo com que nos defrontamos,
aquilo que está presente ante nossos olhos é
exatamente esta visão que não é sistêmica,
porque não encontramos um sistema para abarcar. É
a visão destas interseções dos saberes
que criam esses buracos negros do conhecimento, esses espaços
indevassáveis em que, por maior que seja a lucidez,
não podemos ultrapassar o cinzento das nuvens. A busca
do azul celeste é uma aspiração, o encontro
com a complexidade é o real, é aquilo com que,
efetivamente, nos defrontamos, e este é o solo de que
dispomos, sem absolutamente descrer desta possibilidade, conquanto
remota de descerrar a cortina que poderá algum dia
trazer-nos um pouco de luz a esse mundo tão conturbado.
Agradeço muito a presença dos
senhores acadêmicos Afonso Arinos de Melo Franco Filho,
Antônio Olinto, a senhora Zora Seljan, também
Murilo Melo Filho, Ivan Junqueira, e o acadêmico, secretário-geral
Carlos Nejar, sem falar no ilustre conferencista Domício
Proença. Ah, o Marcos Almir Madeira está oculto
por elipse ali, não está na primeira fila.
No dia 13 de junho, a próxima terça-feira,
teremos a conferência da doutora Miriam Lemle sobre
Variação Lingüística e a Metáfora
do Computador.
Muito obrigado, está encerrada a sessão.
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Texto extraído do saite Por trás das letras,
do prof. Hélio Consolaro, no endereço http://www.portrasdasletras.com.br/pdtl2/sub.php?op=artigos/docs/globalizacaoeestrangeirismo
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