Dica n.º 58 - Sexta, 31.08.2001
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Plural de modéstia

Este é caso de concordância irregular ou ideológica, tecnicamente denominado silepse de número”, onde, em vez do pronome eu, emprega-se nós. Entretanto, não se está referindo a mais de uma pessoa, senão a uma só. O verbo flexiona-se na primeira pessoa do plural e assim concorda com o sujeito formalmente plural. Como, porém, a idéia é a de um só agente, o predicativo – particularmente o adjetivo e o particípio – permanece no singular e sua concordância processa-se não formalmente, mas ideologicamente, como se “eu” estivesse explícito. É utilizado geralmente por escritores e oradores – principalmente por políticos – para evitar tom muito personalista no discurso e fazer parecer que falam não de modo individualista, mas como expressão da fala coletiva. Exemplos: “Nós estamos satisfeito com o resultado”, “Sempre fomos exigente com o bom uso do dinheiro público” e “Prometemos nunca estar envolvido em nenhum escândalo”. Antigamente, reis e altos dignitários eclesiásticos também usavam esse recurso, conhecido por plural majestático. É importante ressaltar que, uma vez feita a escolha do plural de modéstia, não se pode usar o pronome “eu” e que os pronomes pessoais oblíquos e os possessivos devem ser os da primeira pessoa do plural: nos, conosco, nosso. Assim: “Estamos confiante em nossa capacidade de atender à expectativa da população, à qual nos dirigiremos permanentemente para auscultar-lhe a vontade, blá, blá, blá...”.


Leia mais em:
Gramática metódica da língua portuguesa, de Napoleão Mendes de Almeida, § 769, 1, incluídas as Notas “a” e “b”.
Nova gramática do português contemporâneo, de Celso Cunha e Lindley Cintra, pp. 276-277.

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