Dica n.º 60 - Sexta, 14.09.2001
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A partícula se: pronome apassivador e pronome reflexivo.

Entre as várias funções do se, estão a de pronome apassivador e pronome reflexivo. No primeiro caso, ela aparece em “Dá-se terra = Terra é dada”, “Viu-se um avião sobrevoando a base = Um avião foi visto sobrevoando a base” e “Consertam-se telefones = Telefones são consertados”. Nestes exemplos, os sujeitos são terra, um avião e telefones, respectivamente, e temos caso de voz passiva sintética ou pronominal. Exemplos do “se” na condição de pronome reflexivo: “Brisa olha-se embevecida no espelho”, “Wagner questionou-se sobre sua atitude” e “Gabriel pintou-se para a festa na escola”. Aqui, devemos perguntar: quem Brisa olha embevecida no espelho? A resposta é: a si própria; quem Wagner questionou sobre sua atitude? Resposta: a si mesmo; quem Gabriel pintou para a festa na escola? A resposta: a si próprio. A ação praticada pelo sujeito reflete-se sobre ele mesmo. Há casos, porém, em que não fica muito clara a função do “se”, pois tanto a ação verbal mostra-se reflexiva como a construção encontra equivalente na voz passiva. Vejamos: “Ademir feriu-se na perna”. Temos situação ambígua, pois não se sabe se Ademir feriu a si próprio ou se alguém o fez. Isso fica ainda mais evidente quando se converte a construção sintética na analítica: “Ademir foi ferido na perna”. Outro exemplo: “Felipe colocou-se no centro da sala”. Tal enunciado faz parecer que o “se” exerce função reflexiva, mas também pode ser entendido como construção passiva, especialmente se o verbo anteceder o sujeito: “Colocou-se Felipe no centro da sala”. Esta oração pode também equivaler a “Felipe foi colocado no centro da sala”, situação em que parece claro haver sido a ação praticada por terceiros. A ambigüidade, nesses casos, pode ser desfeita da mesma forma que em construções nas quais se deseja distinguir o pronome reflexivo do recíproco: acrescentando-se expressões como “a si mesmo” ou “a si próprio” e suas flexões, se a voz verbal for reflexiva. Dessa forma, temos: “Ademir feriu-se a si mesmo na perna” e “Felipe colocou-se a si próprio no centro da sala”. Se a voz for a passiva, deve-se, em benefício da clareza, empregar a forma analítica: “Ademir foi ferido na perna” e “Felipe foi colocado no centro da sala”.


Leia também em:
Gramática metódica da língua portuguesa, de Napoleão Mendes de Almeida, §§ 391 a 393.
Novíssima gramática da língua portuguesa, de Domingos Paschoal Cegalla, edição de 2000, p. 206.

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