Dica n.º 92 - Sexta, 20.09.2002
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Evolução de regências verbais

Todos sabemos que a língua é sistema em contínua evolução, isto é, transforma-se constantemente. Cabe aos gramáticos estarem atentos às mudanças sob pena de se distanciarem cada vez mais da língua viva.

Esse preâmbulo serve para introduzir o assunto que se segue: a evolução de algumas regências verbais no português brasileiro. Vejamo-las:

·   Aspirar - Tradicionalmente, este verbo tem duas regências. Como transitivo direto, significa inspirar, inalar, entre outros sentidos: "Ficando aqui, você vai aspirar muito pó" e "Aspire o perfume por alguns segundos". Como transitivo indireto, tem o significado de desejar, ambicionar: "De há muito, João Carlos aspirava ao cargo" e "Ao entrar no templo, o neófito aspirava pela luz".
Novidade - Atualmente, gramáticos e autores respeitados também admitem a regência direta com o sentido de "desejar": "O que aspiro é muito mais do que isso" e "Setores oligárquicos da política aspiram continuar no poder". Autores renomados em que se encontra esta prática: José Lins do Rego, Darcy Ribeiro, Gilberto Amado, Viana Moog e Plínio Salgado.
· Assistir - A regência direta e a indireta implicam diferença de sentido. A direta atribui ao verbo o sentido de prestar  assistência, assessorar: "Jorge ficou encarregado de assistir os estagiários" e "Augusto assistiu o presidente na viagem, não sem algum interesse". A regência indireta tem o sentido de ver, presenciar: "Assisti a um Vasco x Botafogo no Maracanã" e "É preciso pagar para assistir ao filme".
Novidade - Gramáticos e autores conhecidos já admitem a regência direta com o sentido de "ver": "A última partida do Corinthians que assisti em estádio foi contra o Brasiliense" e "Não quero assistir espetáculo de violência". Celso Cunha reconhece a evolução sintática, e a construção passiva comprova a transitividade direta: "O jogo foi assistido por cem mil torcedores" e "O filme foi assistido por milhões de espectadores em todo o mundo".
· Visar - Como os anteriores, este verbo tem também duas regências: a direta e a indireta. Ao empregar-se com regência direta, tem, entre outros significados, o de pôr visto, autenticar: "Preciso que você vise este cheque" e "Pedi para visarem o documento". Como transitivo indireto, significa ter como objetivo, pretender: "Com isso, eles visavam à desestabilização do Governo" e "Tais medidas não visam a melhorar o funcionamento do modelo".
Novidade - Modernamente, gramáticos e autores de renome admitem a regência direta também com o sentido de "objetivar", "pretender", como em "A assembléia visa alterar o estatuto" e "As providências visam o fim do conflito". Autores que abonam essa prática: Antenor Nascentes, Rocha Lima, Celso Cunha, Paschoal Cegalla, Evanildo Bechara e outros.

Nota: para evitar problemas com especialistas conservadores, especialmente em provas e concursos, é prudente empregarem-se as regências tradicionais.

Leia mais em:
Dicionário prático de regência verbal, de Celso Pedro Luft, verbetes aspirar, assistir e visar.

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