Dica n.º 100 - Sexta, 21.02.2003
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Infinitivo e pronome oblíquo

Podemos ser tentados a colocar o pronome oblíquo em orações em que aparece o infinitivo não-flexionado, como em “Esta receita é muito fácil de se fazer”. Isto porque o “se” poderia aí ser classificado como pronome apassivador, já que a oração equivale à construção passiva analítica “Esta receita é muito fácil de ser feita”. Realmente, essa equivalência existe, mas na verdade o emprego do pronome, além de desnecessário, é de fato incorreto. Tal se passa porque alguns verbos ativos adquirem força passiva quando, no infinitivo, são antecedidos das preposições a, de, para e por, principalmente quando funcionam como complemento de certos adjetivos. Como exemplos, temos “Há diversas contas a pagar (a serem pagas)”, “Esta parede foi acabada de pintar (de ser pintada)”, “Ele é duro de agüentar (de ser agüentado)”, “João é osso duro de roer (de ser roído)”, “O xarope é difícil de engolir (de ser engolido)”, “A regra é fácil de aprender (de ser aprendida)”, “É exemplo para imitar (para ser imitado)”, “Estas bolsas são para vender (para serem vendidas)”, “Todos estes textos estão por revisar” (por serem revisados)”, “O trabalho ainda está por terminar (por ser terminado)”, etc. Observe que em “duro de agüentar”, “difícil de engolir” e “fácil de aprender”, por exemplo, de agüentar, de engolir e de aprender funcionam como complementos nominais dos adjetivos “duro”, “difícil” e “fácil”.

Entretanto, há quem discorde da passividade da construção alegando que o infinitivo, ao complementar o sentido de certos adjetivos, tem emprego “geral” e não, passivo, caso em que a voz ativa ou passiva neutralizam-se, conforme se pode ler em CUNHA, 2000 (veja abaixo).

De uma forma ou de outra, o uso do pronome oblíquo nessas construções não é autorizado por nenhum autor.


Leia mais em:
Gramática metódica da língua portuguesa, de Napoleão Mendes de Almeida, § 391, 2.ª, Nota “a” e § 407, Notas, 3.ª.
Não erre mais!, de Luiz Antonio Sacconi, p. 45.
Nova gramática do português contemporâneo, de Celso Cunha e Lindley Cintra, p. 475, 4.º , especialmente a nota de rodapé ali indicada.

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