Dica n.º 104 - Sexta, 29.06.2003
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Está na hora do Brasil fazer reformas.

Que lhe parece? Os gramáticos tradicionais torcem o nariz para essa construção e a condenam. Por quê? Porque com a combinação da preposição de com o artigo o o sujeito do infinitivo (Brasil) acaba dependendo do substantivo “hora”, que o antecede, o que dá origem ao sintagma hora do Brasil. O sujeito ficaria indevidamente regido de preposição. E não se tem isso aí. Na verdade, o que há é a expressão “está na hora”, completada por infinitivo, no caso, “fazer”. Assim, o que queremos dizer é que “está na hora de fazer reformas”. Quem? O Brasil. Reconstruindo a frase, podemos dizer “Está na hora de fazer reformas o Brasil” ou, em outra ordem, “Está na hora de o Brasil fazer reformas”. Lembremo-nos pois que, em casos como esse, a expressão “está na hora” deve ser seguida da preposição de e de um verbo no infinitivo: “está na hora de sair”, “está na hora de almoçar”, “está na hora de voltar”, etc. O sujeito desse infinitivo pode posicionar-se antes ou depois do verbo: “Está na hora de levar a sério o estudo o aluno” ou “Está na hora de o aluno levar o estudo a sério”.

Entretanto... Ah, existe um entretanto aí. Gramáticos de renome admitem a combinação. Evanildo Bechara, em sua Moderna gramática portuguesa (BECHARA, 1977: 311-312), ensina que a combinação aí ocorre como fato natural da língua, pelo contato da preposição com o artigo. “Na realidade não se trata de regência preposicional do sujeito, mas do contato de dois vocábulos que, por hábito e por eufonia, costumaram vir incorporados na pronúncia.” (Idem) Bechara cita vários autores consagrados que adotaram tal prática em seus escritos, como Alexandre Herculano, Rui Barbosa, Epifânio Dias e outros e dá como exemplo a famosa frase “Está na hora da onça beber água”.

E aí, como ficamos? Bem, qualquer que seja a opção escolhida, você estará respaldado. Contudo, a prudência recomenda, especialmente em provas escolares ou concursos, o emprego da construção tradicional, isto é, sem a combinação: “Está na hora de a onça beber água”. Se você insistir na combinação e seu texto for corrigido, haverá possibilidade de recurso e sua posição deverá prevalecer, pois conta com respaldo de gramático respeitado. É preciso, porém, nessa atitude, pesar a relação custo/benefício.


Leia mais em:
Gramática metódica da língua portuguesa, de Napoleão Mendes de Almeida, § 653.
Moderna gramática portuguesa, de Evanildo Bechara, pp. 311-312.
Nossa língua portuguesa, de Pasquale Cipro Neto, que você acessa no endereço: (http://www.uol.com.br/linguaportuguesa/incultaebela/ib_000908.htm)

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