Dica n.º 157 - Sexta, 25.01.2008
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Através de

O emprego dessa locução prepositiva costuma suscitar dúvidas e controvérsias, além de muitas vezes ela ser utilizada de forma incorreta. Vejamos como a norma culta prescreve seu uso.

Em primeiro lugar, não nos esqueçamos de esse grupo vocabular ser escrito com “s” final. Em segundo lugar, deve ficar claro que, para atender-se ao que recomenda a Gramática, não é possível a utilização de “através” sem a necessária preposição “de”: “através de”. Por isso, são incorretas frases como “Ouvi a notícia através o rádio”.

Depois, desfaçamos aqui equívoco em que incorre muita gente desavisada, que não se aprofunda no estudo e “chuta” opiniões sem base: dão vazão ao mito segundo o qual a locução “através de” só pode ser empregada com o sentido de de um lado para o outro, ou seja, com idéia física de movimento de lado a lado. Essas pessoas ignoram que a língua evolui e que o sentido das palavras e expressões altera-se conforme a vontade do grupo falante. Além do mais, “através de”, com a equivalência de “por meio de”, “mediante” é abonada por escritores consagrados. E ainda: entre os gramáticos eméritos brasileiros, um dos mais conservadores e intransigentes foi o mestre Napoleão Mendes de Almeida. Pois bem, em seu “Dicionário de questões vernáculas”, ele escreve sobre o assunto:

“Se constitui erro empregar através de para indicar o agente da passiva (O gol foi feito através do jogador Tal), não se deve por outro lado cair no exagero oposto de julgar que a locução só é possível quando significa ‘de um lado para o outro’, ‘de lado a lado’ (Passou através da multidão – Passou a espada através do corpo). Não vemos erro em: ‘A palavra veio-nos do latim através do francês’”.

Portanto, podemos escrever com acerto: “Conheci Denise através de apresentação do Cláudio”, “Os vocábulos oriundos do latim vulgar sofreram muitas alterações através das mudanças fonéticas” e “As instruções vieram-nos através dos canais hierárquicos”.

Finalmente, os puristas condenam o emprego dessa locução no agente da passiva. Segundo eles, devemos evitar construções do tipo “Esses nomes foram popularizados através dos meios de comunicação” e “A orientação foi transmitida através do gabinete pessoal”, em que “meios de comunicação” e “gabinete pessoal” são agentes da passiva. Na estruturas sucedâneas, pode ser utilizada a preposição “por”: “Esses nomes foram popularizados pelos meios de comunicação” e “A orientação foi transmitida pelo gabinete pessoal”.

Leia mais em:
Dicionário de questões vernáculas, de Napoleão Mendes de Almeida, verbete “Através de”.

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