Dica n.º 162 - Sexta, 27.06.2008
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O artigo definido e a determinação do substantivo

Fator importante para a compreensão dos textos é a leitura atenta da presença ou ausência do artigo definido: “o”, “a”, “os”, “as”. Na elaboração textual, a colocação ou não de exemplares dessa classe de palavras vai, em alguns casos, ser fundamental para a ocorrência da crase.

Comecemos por constatar que o artigo definido determina o substantivo, ou seja, indica que se trata de algo ou alguém determinado, que se conhece, como em ‘Vejo o pai da Vanessa" e “Trata-se da Sílvia, a ruiva mais linda da capital federal”. Se só há uma secretaria, podemos dizer que “Jair perguntou onde ficava a Secretaria da escola”.

Do mesmo modo, o artigo acompanha nome de que se sabe ou de que já se falou antes. Assim, construímos “Emerson estava com um copo de vinho na mão quando Tânia se aproximou. Continuou a segurar o copo e olhou-a nos olhos” e “Afonso estava no zoológico com o garoto Adilan, diante da jaula do leão. O pai explicou calmamente ao filho alguns hábitos do felino”. Se pergunto “Onde está o dinheiro?”, depreende-se que se trata de dinheiro do qual já se sabe. E mais: “É o presidente mais popular da história do País”. Por já se saber de qual país se trata, usa-se o artigo e coloca-se “P” em “País”. “Conheço Hamilton desde os tempos do colégio” e “Acho que Daisy estava com problema na cabeça”. Sabemos de qual colégio estamos falando. Quanto a Daisy, a referência é obviamente à cabeça dela, pois não poderia estar com problema na cabeça dos outros.

Tratando-se de pessoas, quando não se tem conhecimento ou intimidade suficiente ou se quer manter alguma distância formal, não se usa o artigo, como em “A dissertação de Carlos Mamede (em vez de “do Carlos”) teve aprovação unânime” e “Foi eloqüente a fala de dom João Braz de Aviz” (e não, “do dom João”).

Usa-se também o artigo definido quando queremos passar a idéia de totalidade e não, de parte dela, como neste exemplo que vimos há pouco: “O pai explicou calmamente ao filho os hábitos do felino”. Se a estrutura fosse “O pai explicou calmamente ao filho hábitos do felino”, sem o “os”, entenderíamos que teriam sido explicados parte dos hábitos e não, todos. É o mesmo caso de “Vi os empregados saírem”. Caso escrevêssemos “Vi empregados saírem”, a referência seria apenas a parte dos empregados e não, a todos.

Veja agora mais dois casos de uso ou não do artigo definido. Repare na diferença entre “Felipe vai voltar para casa” e “Felipe vai voltar para a casa”. Na primeira frase, queremos dizer que Felipe vai voltar para o lar, para o lugar em que mora, independentemente do tipo de construção de que se trate. Já na segunda, a volta é para o tipo de edificação denominado “casa”, de um ou dois pavimentos, da mesma forma que diríamos “Felipe esteve na casa”. Contudo, se acrescentarmos algum qualificativo, tal oração poderá readquirir o primeiro sentido, como em “Felipe vai voltar para a casa dos pais”, em que não se sabe se se trata de casa térrea ou apartamento. Concluímos, pois, que no sentido de lar, lugar onde se mora, “casa” geralmente não é acompanhada de artigo: “Ficaremos em casa”, “Saímos de casa”.

Examinemos agora outro aspecto: quando o emprego ou não do artigo feminino acarreta a colocação ou ausência do acento grave indicador de crase. Em “Dirigiu-se a alunas da classe” (parte das alunas), o “a” é preposição, que faz parte da regência do verbo “dirigir-se“ (dirigir-se a algum lugar). Se, porém, dizemos “Dirigiu-se a + as alunas da classe”, quero dizer que alguém dirigiu-se a todas as alunas da classe. Neste caso, o “a” preposição vai-se fundir com o “as”, artigo, por crase: “Dirigiu-se às alunas da classe”. Outro exemplo é “O fiscal referiu-se a maçãs da banca do Cícero”. Não foi utilizado o artigo definido feminino antes de “maçãs” e assim entendemos que o fiscal se referiu a algumas maçãs apenas. Entretanto, se empregamos o artigo, o entendimento é o de que o fiscal referiu-se a todas elas. Aí haverá crase também: “O fiscal referiu-se a + as maçãs da banca do Cícero = O fiscal referiu-se às maçãs da banca do Cícero”.

Às vezes, usamos o artigo definido em caráter expressivo, para realçar algo ou alguém, como em “Ele não é apenas bom, ele é o bom” e “João Guimarães é o cara”. Vieira possui trecho muito elucidativo do que ora falamos: “Os outros também eram seus filhos, não o negara Jacó; mas o seu filho era José. Vai muito de ser filho a ser o seu filho” (ALMEIDA, 1999, § 243, Obss., 1.ª). Celso Cunha chama este uso de “artigo de notoriedade”.

É bom ficar claro que não se explorou nesta página toda a teoria do artigo, mesmo do definido. O foco foi dado apenas na função determinativa dessa classe de palavras. Para conhecimento completo do assunto, é necessário seu estudo em boa gramática, como as abaixo indicadas.

Leia mais em:
Gramática metódica da língua portuguesa, de Napoleão Mendes de Almeida, §§ 118, 5.ª e 243.
Nova gramática do português contemporâneo, de Celso Cunha e Lindley Cintra, p. 212 e segs.


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