Dica n.º 168 - Sexta, 26.12.2008
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Prosódia

Prosódia é a parte da Fonética que descreve a pronúncia (das palavras) usualmente aceita pela maioria dos falantes cultos, especialmente quanto ao acento tônico. Por isso, não se deve falar propriamente em “correção”, mas em padrão de uso quando falamos de pronúncia.

A quase totalidade das nossas palavras provém do latim e em conseqüência a prosódia portuguesa segue a latina na maior parte dos casos.

Repetimos aqui então que, no que se refere à prosódia, é importante conhecer onde se encontra o acento tônico da palavra, ou seja, qual é a sílaba tônica. Além desta, há também, em palavras de maior extensão, a “subtônica”, isto é, a pronunciada mais intensamente que as demais átonas. Antigamente, a subtônica recebia acento gráfico (grave), como “cafèzinho” e “ràpidamente”, prática abolida em 1971.

O desvio do padrão majoritariamente aceito constitui o vício fonético denominado “silabada”, a ser evitado. Segue abaixo lista incompleta de palavras cuja sílaba tônica está assinalada de acordo com a pronúncia culta:

Oxítonas
Gibraltar
Nobel (é)
recém- (ê)
refém (ê)
sutil (Existe “sútil”, adjetivo e substantivo, com outros sentidos.)
ureter (ê-é)/ureteres (ê-é-ê) (Já houve a pronúncia paroxítona.)

Paroxítonas
acórdão (A imprensa às vezes publica “acordão”, aumentativo de “acordo”, com outro sentido.)
avaro (Há também “ávaro”, com outro sentido.)
aziago
batavo
bênção (Na norma popular, encontra-se “benção”, oxítona.)
Bovar
rax
non
cartomancia
ciclope (ó) (Há tendência para a transformação em proparoxítona, com “ô”.)
vel (A forma oxítona “civil” é outra palavra.)
decano (â)
díspar
druida (drui-da)
edito (Há também o substantivo na forma proparoxítona, com “é”.)
filantropo (ô)
gratuito (Há tendência para a divisão silábica em “gra-tu-í-to”.)
ibero (é)
indene (ê)
libido
maquinaria
Martinez (Não existe “Martinez”, oxítona; o que há é a pronúncia original espanhola, paroxítona, ou a correspondente portuguesa
                 “Martins”.)
misantropo (ô)
Normandia
pegada
perito
protil (é) [A forma oxítona – projetil (ê) também é admitida.]
pudico
quiromancia
réptil (Vale o mesmo dito sobre “projetil”.)
rubrica (Em “Formato mínimo”, canção gravada pela banda Skank, encontra-se a pronúncia proparoxítona. Condescendentemente,
              entendamos que o Samuel Rosa e o Rodrigo Leão valeram-se do recurso denominado “licença poética”, já que há vários                vocábulos proparoxítonos na letra da música.)
têxtil

Proparoxítonas
arquétipo
ávaro (O substantivo e o adjetivo relacionam-se com os ávaros, povo bárbaro oriundo da Ásia Central, que assolou a Europa entre
           o século VI e o VIII e acabou-se tornando europeu.)
varo
brâmane
none
cômputo (Substantivo; a forma paroxítona é flexão do verbo “computar”.)
édito (Como já vimos, há também a forma paroxítona, com “ê”.)
ínterim
cifer (ê) (A pronúncia popular é oxítona, com “é”.)
molito (A pronúncia paroxítona, com três “ôôô” é muito comum.)
Niágara
ômega
protipo
geto [Há também “vegeto” (ê-é), flexão do verbo “vegetar”.)
nite

“Estragia” pode ser proparoxítona ou paroxítona conforme a divisão silábica: “es-tra-té-gi-a” ou “es-tra-té-gia”.

Há palavras que, mesmo na língua culta, admitem dupla prosódia, como “acróbata (ó)/acrobata (ô)”, “ambrósia (ó)/ambrosia (ô)”, “adrido/anidrido”, “boêmia/boemia”, “crisântemo/crisantemo (ê)”, “hieglifo (ó-ô)/hieroglifo (ô-ô)”, “holia/homilia”, “Ortoepia ê)/Ortoépia (é)” (veja a propósito a dica n.º 167), “protil (é)/projetil (ê)”, “réptil (é)/reptil (ê)”, “rox (é)/xerox (ê)”, “zangão/zangão”.

Por vezes, há diferença entre a prosódia brasileira e a lusitana. Assim, enquanto no Brasil a pronúncia culta é “pudico” e “rubrica”, em Portugal são correntes as formas proparoxítonas.

Com o passar do tempo, o acento tônico pode-se deslocar, fenômeno relativamente comum. Assim, “pântano” já foi “pantano”. Em nossos dias, testemunhamos a transformação de proparoxítonos em paroxítonos em razão da tendência que os falantes da língua portuguesa têm de evitar aqueles. Exemplo disso são “ânodo” > “anodo”, “aete” > “ariete (ê-ê)”, “todo” > “catodo (ô)”, “clítoris (ô)” > “cliris (ó)”, “etrodo (ê-é)” > “eletrodo (ê-ê)”. Por influência espanhola, o original “Oceânia” tornou-se paroxítono – “Oceania” –, com a divisão silábica “O-ce-a-ni-a”. Ainda assim, admitem-se também as formas “O-ce-â-ni-a”/”O-ce-â-nia”.

Para estarmos com o “passo certo”, ou seja, de acordo com a maioria, é conveniente emitirmos as palavras com o acento tônico normalmente aceito e assim evitamos a silabada.

Leia mais em:
Gramática metódica da língua portuguesa, de Napoleão Mendes de Almeida, § 95-106.
Nova gramática do português contemporâneo, de Celso Cunha e Lindley Cintra, p. 57-58


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