Você sabia... que o obscurecimento de sentido pode
provocar reforço morfológico em formas lingüísticas?
Há vários casos na história da língua
em que os falantes, com o passar do tempo, sentem necessidade
de reforço morfológico em certas palavras cujo
significado já lhes parece algo "enfraquecido"
ou mesmo obscurecido. Aí acrescentam morfemas
que, embora redundantes, revitalizam o conteúdo significativo
original. Vejamos o caso do pronome comigo, formado
de "com + migo". Mas o que é esse "migo"?
"Migo" é resultado da transformação
fonética
do latim "mecum" (que significava exatamente
"comigo"), onde já estava embutida a preposição
"com" (cum, em latim). Com o passar do tempo,
os falantes não "sentiram" mais a presença
do "com" em mecum e acrescentaram mais um
"com" (cum + me + cum > cummecum
> comigo). Daí o vocábulo "comigo",
em rigor, conter dois "com". Esse fenômeno
também ocorreu com as formas contigo, consigo,
conosco e convosco (oriundas do latim tecum,
secum, nobiscum e vobiscum, acrescidas
da preposição cum, com.). Algo muito
parecido aconteceu com o verbo suicidar-se. Originalmente,
"suicidar" já era verbo
reflexivo por conter o elemento "sui"
(do latim sŭī, pronome
reflexivo da terceira pessoa, com o significado de "de
si"). Posteriormente, o valor reflexivo de "sui"
apagou-se na percepção dos usuários da
língua, que sentiram a necessidade de reavivá-lo.
O verbo recebeu o reforço do pronome "se"
e assumiu a forma pronominal de hoje: suicidar-se.
Atualmente, processo semelhante ocorre com o uso de "e
etc.". (Veja, a respeito, a Dica
n.º 12.)
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