Você sabia? n.º 54 - Sexta, 07.06.2002
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Você sabia... que um escrito de 1824 ou 1825, produzido pelo poeta e diplomata Domingos Borges de Barros, barão e depois visconde de Pedra Branca, é o primeiro documento em que se estudam os brasileirismos? Pedra Branca servia na embaixada do Brasil em Paris e produziu o texto em francês como colaboração à obra "Introduction à l'atlas ethnographique du globe", em preparação na época por Adrien Balbi. Trata-se de lista de vocábulos de origem indígena, africana ou mesmo portuguesa com significado aqui modificado, em uso no Brasil daqueles tempos (e, como se vê, a maior parte empregada ainda hoje) precedida de considerações teóricas . Dela constam, por exemplo, babados, balaio, batuque, boquinha, caçula, cangote, capeta, capim, capoeira, chácara, chacota, charquear, cipoada, cochilar, faceira, farofa, fuxicar, iaiá, mandinga, mascate, mocotó, molambo, moquear, munheca, muxiba, muxoxo, nanica, quindins, quitanda, quitutes, roça, saracotear, senzala, sótão, tapera, trapiche, xingar e outros.

O autor segmenta o vocabulário descrito em dois grupos: o dos nomes portugueses que mudaram de sentido no Brasil e os desconhecidos em Portugal. No primeiro grupo, ao lado dos brasileirismos, coloca, em duas colunas, o significado lusitânico e o brasileiro. No segundo, apenas sinônimos ou o significado de cada item. Como se disse acima, significados e equivalências em francês.

O trabalho de Pedra Branca, a par de se constituir no primeiro do gênero, revela momento da história brasileira em que buscávamos nossa identidade lingüística mediante o esforço de diferenciação do português europeu. Isso se refletiu por essa época e pelas décadas seguintes no movimento conhecido por "indianismo" - a adoção do índio como tema literário -, do qual são expoentes Gonçalves Dias e José de Alencar.


Leia mais em:
A língua nacional e outros estudos lingüísticos, de João Ribeiro, pp. 58-64.

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