Você sabia? n.º 56 - Sexta, 05.07.2002
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Você sabia... quais são as principais causas da arcaização lexical? Arcaização lexical é o fenômeno que consiste na obsolescência de palavras ou expressões em virtude de sua substituição por outras novas. É processo lento e assim é possível perceber-se que determinada palavra vai começando a cair em desuso e qual lhe vai tomando o lugar.

Diversas causas promovem a arcaização: a dificuldade de pronúncia, a necessidade de evitar-se confusão com outras formas lingüísticas, o desgaste de palavras tradicionais e o gosto pelo novo. Outra causa importante é o desaparecimento de instituições, costumes, objetos e funções, o que leva ao desaparecimento dos nomes que os designavam. Por isso, arcaizaram-se aguadeiro (vendedor de água em lombo de burro), besta (arma para arremesso de flechas), catapulta (máquina de guerra), gramofone (o vovô dos toca-discos), mezinha (remédio caseiro), suserano (senhor feudal).

Há vários meios pelos quais formas se tornam arcaicas. São eles:

1. Sinonímia - Acaba-se preterindo uma palavra em benefício de sinônima já existente ou de outra que aparece (neologismo): "aflição" substituiu coita (daí "coitado"), "depressa" substituiu asinha, "enquanto" substituiu mentres ou mentre (compare com o espanhol mientras), "oficial de justiça" substituiu meirinho, "testamento" substituiu manda.
2. Eufemismo - Formas eufemísticas tomam o lugar das que passam idéia desagradável ou ridícula: "cheirar mal" ficou no lugar de feder (ainda usada), "dar à luz" ficou no lugar de parir (referente à mulher), "pontas" ficou no lugar de cornos.
3. Degradação de sentido - Dos sentidos possíveis, resta o negativo: manceba - de simples feminino de "mancebo" (rapaz), ficou com o sentido de "concubina" (daí "amancebado"); safado - de "gasto pelo uso" para "sem-vergonha", "imoral", "sem caráter"; tratante - antes, aquele que fazia trato, acordo; hoje, o que faz os acordos e não os cumpre. Repare que esse fenômeno está ocorrendo, em nossos dias, com tráfico: de comércio ilegal em geral, o sentido começa a se concentrar em "comércio ilegal de drogas".
4. Polissemia - Uma forma fônica deixa de se associar a um significado e passa a ligar-se a outro: formidável - de "que causa medo (formido)" passa a "magnífico"; garçom - de "rapaz" passa a "empregado de restaurante"; vela - passa de "sentinela" a "dispositivo de iluminação".
5. Homonímia - Muitas vezes, para evitar confusão, um dos homônimos desaparece: sai ca ("porque"; compare com o francês car) e permanece "cá" (aqui); sai u (onde) e permanece "u" (vogal); sai osso (urso) e permanece "osso" (parte do corpo).

Alguns vocábulos "ressuscitam" após se terem arcaizado: otário ficou décadas no ostracismo e ressurgiu nos anos 80. O mesmo fenômeno ocorreu com arrefecer, devaneio, esquivar, queixume, realeza, reclame (anúncio) e timoneiro.

É preciso parcimônia no emprego das formas arcaicas, e seu abuso constitui o vício de linguagem denominado arcaísmo.

Leia mais em:
Gramática histórica, de Ismael de Lima Coutinho.
Gramática metódica da língua portuguesa, de Napoleão Mendes de Almeida, § 880.