Você sabia? n.º 58 - Sexta, 02.08.2002
www.paulohernandes.pro.br
 
     
 
 
Você sabia... que o sândi é freqüente causa de alterações fonéticas e morfológicas? Mas o que é "sândi"? Trata-se de termo da antiga gramática sanscrítica que designa as alterações mórficas e  fonológicas  causadas  pelo  contato  entre  formas  da  língua.
O sândi classifica-se em "interno" e "externo". O primeiro ocorre no interior do vocábulo. Assim, os semantemas (radicais) cre- (de "crer") e le- (de "ler") em contato com a desinência verbal -o provocam o surgimento de um i eufônico para desfazer o hiato: creio e leio. O sândi externo verifica-se na justaposição vocabular - final de uma palavra com o início de outra. Nas línguas modernas, a grafia não registra o fenômeno, ao contrário do que acontecia com o sânscrito. Dessa forma, em "olhos azuis", o /s/ de "olhos" em contato com o /a/ de "azuis" passa a ficar em posição intervocálica e, de fonema surdo que é, muda para sonoro, ou seja, transforma-se em /z/: /luza´zuys/). O mesmo acontece com "vim aqui" (/vĩ/ + /a´ki/), que resulta em "vinhaqui" (/viña´ki ) e com "chamem + o" (/´šamẽy/ + /o/), que se converte em "chamem-no" (/´šamẽyno/).

O sândi é fenômeno sincrônico, portanto, metaplasmo. Entretanto, como as alterações fonéticas (e também morfológicas) podem perenizar-se com o correr do tempo, é igualmente estudado pela Gramática Histórica e tais fatos passam a ser considerados mudanças fonéticas, eventos diacrônicos.


Leia mais em:
Dicionário gramatical da língua portuguesa, de Celso Pedro Luft.
Dicionário de Lingüística e Gramática, de Joaquim Mattoso Camara Jr.
Do latim ao português, de Edwin B. Williams.
Pág. "Você sabia? n.º 36", do saite do prof. Paulo Hernandes.