Você sabia... que as línguas germânicas
faladas pelos povos ditos "bárbaros" que
invadiram e conquistaram vastas regiões do Império
Romano são superstrato em relação
ao latim? Mas o que significa "superstrato"? Superstrato
ou superestrato é língua introduzida largamente
em área onde se fala outro idioma, ao qual não
se impõe, mas no qual deixa marcas. Assim, no início
do século V, povos germânicos que já vinham
forçando as fronteiras daquele império espalham-se
pelas províncias romanizadas, falantes do latim. É
oportuno ressaltar que o latim aí falado já
tinha sofrido a influência de línguas preexistentes
à conquista romana (substrato) e por isso apresentava
diferenças de região para região. Os
conquistadores reconheceram a superioridade da civilização
latina e adotaram o latim nas áreas sob seu domínio,
mas fizeram cessar a fonte da cultura romana que abastecia
as províncias: não se tinha mais acesso aos
escritos dos clássicos e as escolas foram fechadas.
Com o superstrato germânico, as diferenças se
acentuam em razão da variedade das línguas que
chegam e o latim dialeta-se ainda mais. Assim, essa influência
contribui para acelerar as diferenças existentes entre
os falares das províncias romanas e abre caminho para
a transformação do latim em romance ou romanço,
forma lingüística de transição entre
a língua latina e as que surgiriam da continuidade
dessas transformações: as línguas românicas.
Na Península Ibérica, as principais línguas
que constituem o superstrato germânico são as
faladas pelos suevos, vândalos e visigodos. Os primeiros
têm particular importância por se haverem estabelecido
na Lusitânia, atual Portugal. A marca mais notável
dessa presença lingüística ficou no léxico.
Em se tratando do português, muitas palavras têm
origem naquelas línguas - são os germanismos
- e referem-se principalmente a nomes ligados à atividade
bélica - como vestimentas, armas, insígnias
militares - e aos pontos cardeais, a exemplo de elmo, espora,
estribo, feudo, galardão, guerra, trégua
e vários outros. Houve também alguma influência
fonética e morfológica, mas a mais importante
é mesmo a lexical.
|