Você sabia? n.º 61 - Sexta, 11.10.2002
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Você sabia... que as línguas germânicas faladas pelos povos ditos "bárbaros" que invadiram e conquistaram vastas regiões do Império Romano são superstrato em relação ao latim? Mas o que significa "superstrato"? Superstrato ou superestrato é língua introduzida largamente em área onde se fala outro idioma, ao qual não se impõe, mas no qual deixa marcas. Assim, no início do século V, povos germânicos que já vinham forçando as fronteiras daquele império espalham-se pelas províncias romanizadas, falantes do latim. É oportuno ressaltar que o latim aí falado já tinha sofrido a influência de línguas preexistentes à conquista romana (substrato) e por isso apresentava diferenças de região para região. Os conquistadores reconheceram a superioridade da civilização latina e adotaram o latim nas áreas sob seu domínio, mas fizeram cessar a fonte da cultura romana que abastecia as províncias: não se tinha mais acesso aos escritos dos clássicos e as escolas foram fechadas.

Com o superstrato germânico, as diferenças se acentuam em razão da variedade das línguas que chegam e o latim dialeta-se ainda mais. Assim, essa influência contribui para acelerar as diferenças existentes entre os falares das províncias romanas e abre caminho para a transformação do latim em romance ou romanço, forma lingüística de transição entre a língua latina e as que surgiriam da continuidade dessas transformações: as línguas românicas. Na Península Ibérica, as principais línguas que constituem o superstrato germânico são as faladas pelos suevos, vândalos e visigodos. Os primeiros têm particular importância por se haverem estabelecido na Lusitânia, atual Portugal. A marca mais notável dessa presença lingüística ficou no léxico. Em se tratando do português, muitas palavras têm origem naquelas línguas - são os germanismos - e referem-se principalmente a nomes ligados à atividade bélica - como vestimentas, armas, insígnias militares - e aos pontos cardeais, a exemplo de elmo, espora, estribo, feudo, galardão, guerra, trégua e vários outros. Houve também alguma influência fonética e morfológica, mas a mais importante é mesmo a lexical.


Leia mais em:
Dicionário de Lingüística e Gramática, de Joaquim Mattoso Camara Jr, verbete "Superstrato".
Gramática histórica, de Dolores Garcia Carvalho e Manoel Nascimento.
Gramática histórica, de Ismael de Lima Coutinho.