Você sabia? n.º 62 - Sexta, 25.10.2002
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Você sabia... que a prótese é acréscimo de fonema no início de vocábulo? Considerada como fenômeno que ocorre ao longo do tempo, a prótese - às vezes chamada próstese - é mudança fonética, da qual há muitos exemplos na língua portuguesa. Assim:

Latim
remittere
scriptu
scutu
smaragdu
spatha
sperare
sphaera
spiritu
stare
stella
strictu
studiu
Português
arremeter
escrito
escudo
esmeralda
espada
esperar
esfera
espírito
estar
estrela
estreito
estudo

Observe-se que a prótese já ocorria no próprio latim (vulgar), onde se documentam formas como istare e espiritus, pois como o /s/ inicial que antecedia outra consoante dificultasse a pronúncia, antepôs-se-lhe /e/ protético em muitos casos. Em algumas palavras, o /a/ inicial proveio do prefixo latino "ad", como em ad plicare > adplicare > aplicare > achegar; ad oculare > adoculare > aolhar > olhar; ad uenire > aduenire > avir.

Modalidade especial de prótese é a "aglutinação", incorporação de artigo definido ao vocábulo, como em lacuna > a lagoa > alagoa > lagoa; a minacia > aminacia > ameaça; rana > a rãa > arrã > rã; mora (plural) > a mora > amora; raia > a raia > arraia.

Como a prótese é tendência da língua, continua portanto a ocorrer: assim, o antropônimo feminino Zenilda, empregado com artigo - a Zenilda -, dá origem a Azenilda. (Exemplo coletado em Brasília-DF.)

Se esse fenômeno fonético é focalizado em determinado momento da história da língua, é fato sincrônico e por isso se classifica como metaplasmo. Veja o que faz Camões:

"Cesse tudo o que a Musa antiga canta,
Que outro valor mais alto se alevanta". (Os Lusíadas, I, 3)

Pode-se considerá-lo metaplasmo porque já na época do poeta (séc. XVI) o verbo alevantar havia evoluído para levantar.


Leia mais em:
Dicionário gramatical da língua portuguesa, de Celso Pedro Luft, verbete "Prótese".
Dicionário de termos literários, de Massaud Moisés, verbete "Escansão".
Do latim ao português, de Edwin B. Williams, §§ 11, 71 e 117.
Gramática histórica, de Dolores Garcia Carvalho e Manoel Nascimento, "Metaplasmos, I.1".
Gramática histórica, de Ismael de Lima Coutinho, § 219.