Você sabia... que a prótese é
acréscimo de fonema no início de vocábulo?
Considerada como fenômeno que ocorre ao longo do tempo,
a prótese - às vezes chamada próstese
- é mudança fonética,
da qual há muitos exemplos na língua portuguesa.
Assim:
Latim
remittere
scriptu
scutu
smaragdu
spatha
sperare
sphaera
spiritu
stare
stella
strictu
studiu
|
Português
arremeter
escrito
escudo
esmeralda
espada
esperar
esfera
espírito
estar
estrela
estreito
estudo |
Observe-se que a prótese já ocorria no próprio
latim (vulgar), onde se documentam formas como istare
e espiritus, pois como o /s/ inicial que antecedia
outra consoante dificultasse a pronúncia, antepôs-se-lhe
/e/ protético em muitos casos. Em algumas palavras,
o /a/ inicial proveio do prefixo latino "ad", como
em ad plicare > adplicare > aplicare > achegar;
ad oculare > adoculare > aolhar > olhar; ad uenire
> aduenire > avir.
Modalidade especial de prótese é a "aglutinação",
incorporação de artigo definido ao vocábulo,
como em lacuna > a lagoa > alagoa > lagoa; a minacia
> aminacia > ameaça; rana > a rãa >
arrã > rã; mora (plural) > a mora
> amora; raia > a raia > arraia.
Como a prótese é tendência da língua,
continua portanto a ocorrer: assim, o antropônimo
feminino Zenilda, empregado com artigo - a Zenilda -, dá
origem a Azenilda. (Exemplo coletado em Brasília-DF.)
Se esse fenômeno fonético é focalizado em determinado momento
da história da língua, é fato sincrônico e por isso se classifica
como metaplasmo.
Veja o que faz Camões:
"Cesse tudo o que a Musa antiga canta,
Que outro valor mais alto se alevanta".
(Os Lusíadas, I, 3) |
Pode-se considerá-lo metaplasmo porque já na época do poeta
(séc. XVI) o verbo alevantar havia evoluído para levantar.
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