Você sabia? n.º 65 - Sexta, 13.12.2002
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Dialetos portugueses

Você sabia... quais são os dialetos do português? Em Portugal, o português-padrão é o falado na região que compreende Lisboa e Coimbra. Na verdade, trata-se de dialeto elevado à condição de língua nacional, fato que ocorreu também com outras línguas, como com o dialeto de Ile-de-France, convertido no francês-padrão, e com o dialeto toscano, no italiano-padrão. Assim, as demais variedades lingüísticas portuguesas são consideradas dialetos. Segundo José Leite de Vasconcellos, eles podem ser reunidos em três grupos:
1. Continentais, localizados no Portugal continental.
2. Insulanos, falados nas ilhas européias.
3. Ultramarinos, empregados fora do continente europeu.

1. Os dialetos continentais são o interamnense [Entre-Douro-e-Minho (Douro e Minho são rios portugueses que desembocam no Atlântico)], o trasmontano (região de Trás-os-Montes), beirão (Beira Alta e Beira Baixa) e meridional (sul de Portugal). Este último subdivide-se em três falares: o alentejano (no Alentejo), o estremenho (Estremadura) e o algarvio (no Algarve, extremo Sul).
2. Os insulanos são falados nas ilhas portuguesas pertencentes ao continente europeu, como o açoriano (Açores) e o madeirense (Madeira).
3. Os dialetos ultramarinos são utilizados em outros continentes onde se localizam ex-colônias portuguesas, como o brasileiro (falado no Brasil) e os dialetos de Angola e Moçambique. Há outros dialetos, de gramática bem simplificada e bastante mesclados com línguas nativas, chamados “crioulos”. Assim, encontram-se na África os dialetos crioulos de Cabo Verde, da Guiné, de São Tomé e Príncipe e de Ano-Bom; na Índia, os de Goa, Damão e Diu; na China, o de Macau; e outros.

Há quem se ofenda com a classificação de “dialeto” dada ao português brasileiro. Na verdade, tal melindre não se justifica se atentarmos para conceitos da Geografia Lingüística, notadamente a noção de dialeto. O que significa, para o especialista, esse termo? Jean Dubois diz que “dialeto é um sistema de signos e de regras combinatórias da mesma origem que outro sistema considerado como a língua, mas que se desenvolveu, apesar de não ter adquirido o status cultural e social dessa língua, independentemente daquela” (DUBOIS, 1978: 183-185). Celso Luft afirma ser o dialeto “língua regional ou variedade regional de uma língua” (LUFT, 1971: 61). Mattoso Camara ensina que “os dialetos são falares regionais que apresentam entre si coincidência de traços lingüísticos fundamentais” (MATTOSO CAMARA JR., 1978: 95). Por conseguinte, o dialeto é variedade da língua-padrão que apresenta diferenças marcantes em relação àquela língua, possui literatura e área definida de abrangência. As diferenças em relação a tal língua são principalmente de natureza fonética, lexical e semântica e em menor medida, morfológica e sintática. Entretanto, essas distinções não fazem com que se trate de línguas diferentes, já que os falantes de ambas as modalidades conseguem, com mais ou menos dificuldade, na dependência do dialeto, comunicar-se. Já em se tratando de línguas distintas, a comunicação verbal pode simplesmente ser impossível. É certo que na atualidade o português brasileiro tem mais prestígio internacional que o lusitano, mas isso não nos autoriza a dizer que falamos outra língua. É só lançarmos os olhos sobre as páginas de qualquer livro editado em Portugal e veremos que só percebemos se tratar do português europeu por pequenos detalhes ortográficos ou por uma ou outra palavra mais empregada por lá. A principal língua falada no Brasil é, portanto, a portuguesa, em sua variedade brasileira.

Leia mais em:
Dicionário gramatical da língua portuguesa, de Celso Pedro Luft.
Dicionário de Lingüística, de Jean Dubois e outros.
Dicionário de Lingüística e Gramática, de Joaquim Mattoso Camara Jr.
Gramática histórica, de Ismael de Lima Coutinho, § 82.