Você sabia? n.º 66 - Sexta, 27.12.2002
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Você sabia... que aférese é a supressão de fonema no início de vocábulo? Tal fenômeno ocorreu freqüentemente, mas sem regularidade, durante a transformação do latim no português. Assim, temos:

Latim
abadejo (esp.)
acume
attonitu
enojo
episcopu
imaginare
Português
badejo
gume
tonto
nojo
bispo
maginar (arcaico e regional)

Em algumas palavras, não apenas a vogal inicial, mas toda a sílaba se perdeu, como em insania > sanha e spasmu > espasmo > pasmo.

Caso especial de aférese é a deglutinação, supressão da vogal “a” ou “o” por confusão com o artigo. Assim, o falante pensa que a vogal inicial é artigo e a separa do vocábulo: abbatina > a batina, apotheca > abodega > a bodega ou a botica, horologiu > orologio > o relógio. Comprova-se essa confusão pela mudança de gênero em certos casos, como em occasione > ocajom > o cajom (arc.). Às vezes, a confusão é com suposta existência da preposição “de”, como em (fruta) damascena > d’amascena > da ameixa.

Como a aférese é tendência da língua, continua a ocorrer, como em obrigado > brigado e está > tá. Se considerada do ponto de vista histórico, é mudança fonética, como em todos os exemplos dados aqui. Caso se a considere fato sincrônico, produzido isoladamente em determinado momento, especialmente pelo escritor, trata-se de metaplasmo, como quando Castro Alves escreve em “Navio Negreiro”: “’Stamos em pleno mar...”.

Leia mais em:
Do latim ao português, de Edwin B. Williams, § 106.
Gramática histórica, de Ismael de Lima Coutinho, § 225.
Gramática histórica, de Dolores Garcia Carvalho e Manoel Nascimento, p. 36.