Você sabia? n.º 77 - Sexta, 26.09.2003
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Você sabia... que os falantes da língua portuguesa têm tendência histórica a evitar os proparoxítonos? Já no latim lusitânico, seguindo a lei do menor esforço, o povo em geral procurava transformar as palavras proparoxítonas em paroxítonas, como nos exemplos abaixo*:

Latim erudito
álacre
cáthedram
condúcere
dícere
fácere
íntegru
lintéolu
pônere
ténebras
Latim vulgar
alácre
cathêdra
conducêre
dicêre
facêre
intêgru
linteólu
ponêre
tenébras
Português
alegre
cadeira
conduzir
dizer
fazer
inteiro
lençol
pôr
trevas

De dois recursos principais os falantes têm-se valido para evitar os proparoxítonos: a diástole e a síncope.

Mediante a diástole, o acento tônico desloca-se da antepenúltima para a penúltima sílaba, ou seja, os proparoxítonos tornam-se paroxítonos. Além dos exemplos acima, aqui vão outros:

Latim erudito
dúbitat
follícare
mulíere
paríete
pôpulat
Latim vulgar
dubítat
follicáre
muliére
pariête
popúlat
Português
duvida
folgar
mulher
parede
povoa

A síncope também atua nesse processo:
Latim
apícula > apecla
aurícula > orecla
gálicu > galgu
lépore > lebore
mânica > maniga
ópera > obera
parícula > parecla
Português
abelha
orelha
galgo
lebre
manga
obra
parelha

* Os acentos gráficos foram colocados apenas para assinalar a vogal tônica, já que o latim não possui acentos.

Como é tendência da língua, o fenômeno continua:
ânodo > anôdo**
cátodo > catôdo**
clítoris > clitóris**
elétrodo > eletrôdo**
espírito > ispríto (popular) **
Eurípedes > Orípes (popular) **
íbero > ibéro**

** Os acentos gráficos destas paroxítonas, quase todos inexistentes, foram colocados para assinalar a vogal tônica.

Há outras causas que contribuem para a transformação dos proparoxítonos em paroxítonos, que você pode encontrar na bibliografia recomendada.


Leia mais em:
Do latim ao português, de Edwin B. Williams.
Gramática histórica, de Dolores Garcia Carvalho e Manoel Nascimento.
Gramática histórica, de Ismael de Lima Coutinho.