Você sabia? n.º 81 - Sexta, 30.01.2004
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Você sabia... que no grupo consonantal ct, do latim lusitânico, a primeira consoante geralmente vocalizou-se em português? Vejamos o que ocorreu:

Em muitos casos, /k/ passou a /y/, isto é, vocalizou-se, como em biscoctu > biscoito, directu > direito, factu > feito, iactu > jaito > jeito, lacte > laite > leite, (herba) lactuca > leituga, lectore > leitor, lectu > leito, nocte > noite, octo > oito, profectu > proveito, respectu > respeito, secta > seita. Em outros, /k/ assimilou-se, isto é, igualou-se a /t/, que se reduziu a um só: mactare > mattar > matar, tractare > trattar > tratar.

Ct + /y/ transformou-se em /y/ + /s/: destructione > destruão, electione > eleão, factione > feão, mas actione > ação, actiuu > ativo. Provavelmente, a essa altura, “ct” seguido de /y/ já fosse pronunciado /ks/.

O /y/ de “it” precedido de /u/ geralmente caiu: fructu > fruito > fruto, tructa > truita > truta.

Quando era precedido de /a/ ou /o/, especialmente se este fosse pretônico, /k/ de “ct” vocalizava-se em /w/: actiuu > autivo > ativo, actu > auto, contractu > contrauto > contrato, tractatu > trautado > tratado; doctu > douto, doctore > doutor, octauu > outavo > oitavo, octubre > outubro. Autores há que julgam estar na evolução de “oct” para “oit” em algumas regiões de Portugal e de “oct” para “oit” em outras a origem da alternância “ou/oi”, como em couro/coiro, cousa/coisa, louro/loiro, mouta/moita.

Em vocábulos eruditos, /k/ geralmente caiu: actu > acto > ato, factu > facto > fato (em Portugal, permanece facto), uictima > vítima. Estas formas foram introduzidas no léxico durante o renascimento português com base no original latino e, evidentemente, não seguiram a evolução usual, como ocorreu com actu e factu, por exemplo (actu > auto e factu > feito).


Leia mais em:
Dicionário gramatical da língua portuguesa, de Celso Pedro Luft (verbete “Vocalização”).
Do latim ao português, de Edwin B. Williams, § 89, item 2-C; § 92, item 7-A, B, C, E.
Gramática histórica, de Dolores Garcia Carvalho e Manoel Nascimento, p. 62.
Gramática histórica, de Ismael de Lima Coutinho, § 180.