Você sabia... que no grupo
consonantal ct, do latim lusitânico,
a primeira consoante geralmente vocalizou-se
em português? Vejamos o que ocorreu:
Em muitos casos, /k/ passou a /y/, isto é, vocalizou-se,
como em biscoctu > biscoito,
directu > direito, factu
> feito, iactu > jaito
> jeito, lacte > laite
> leite, (herba) lactuca >
leituga, lectore > leitor,
lectu > leito, nocte
> noite, octo > oito,
profectu > proveito,
respectu > respeito,
secta > seita. Em
outros, /k/ assimilou-se, isto é, igualou-se a /t/,
que se reduziu a um só: mactare > mattar >
matar, tractare > trattar > tratar.
Ct + /y/ transformou-se em /y/ + /s/: destructione
> destruição, electione
> eleição, factione
> feição, mas actione
> ação, actiuu > ativo. Provavelmente,
a essa altura, “ct” seguido de /y/ já fosse
pronunciado /ks/.
O /y/ de “it” precedido de /u/ geralmente caiu:
fructu > fruito
> fruto, tructa
> truita >
truta.
Quando era precedido de /a/ ou /o/, especialmente se este
fosse pretônico,
/k/ de “ct” vocalizava-se em /w/: actiuu
> autivo > ativo, actu
> auto, contractu
> contrauto > contrato, tractatu
> trautado > tratado; doctu
> douto, doctore
> doutor, octauu
> outavo > oitavo, octubre
> outubro. Autores há
que julgam estar na evolução de “oct”
para “oit” em algumas regiões de Portugal
e de “oct” para “oit” em outras a
origem da alternância “ou/oi”, como em couro/coiro,
cousa/coisa, louro/loiro, mouta/moita.
Em vocábulos eruditos, /k/ geralmente caiu: actu
> acto > ato, factu > facto > fato (em Portugal,
permanece facto), uictima > vítima.
Estas formas foram introduzidas no léxico durante o
renascimento português com base no original latino e,
evidentemente, não seguiram a evolução
usual, como ocorreu com actu e factu, por
exemplo (actu > auto e factu > feito).
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