Você sabia? n.º 82 - Sexta, 27.02.2004
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Você sabia... que os hibridismos são fato relativamente comum na língua portuguesa? Bem, mas primeiramente vejamos o que significa hibridismo. Trata-se de termo que designa vocábulo composto de elementos oriundos de línguas diferentes. Os gramáticos tradicionais condenam injustamente os hibridismos, talvez pela quebra de uniformidade da origem dos elementos que os constituem. A verdade é que, em se tratando da nossa língua, nessa forma de composição os falantes já sentem como portugueses os elementos de procedência diversa, especialmente os sufixos, e isso justifica a estrutura híbrida. Grande parte dos hibridismos compõe-se de elementos gregos e latinos. Exemplos de hibridismos:
AlcalóideÁlcali (árabe) + óide (grego)
AlcoômetroÁlcool (árabe) + metro (grego)
AntipatrióticoAnti- (grego) + patriótico (latim)
ArquimilionárioArqui- (grego) + milionário (francês)
AutoclaveAuto- (grego) + clave (latim)
BicicletaBi- (latim) + ciclo (grego) + eta (-ette, francês)
BurocraciaBuro (francês) + cracia (grego)
Capim-gorduraCapim (tupi) + gordura (português)
EndovenosoEndo- (grego) + venoso (latim)
Guarda-mirimGuarda (português) + mirim (tupi)
HiperacidezHiper- (grego) + acidez (português)
Mangueira (árvore) – Manga (malaiala, Índia) + -eira (latim)
PitombeiraPitomba (tupi) + -eira (latim)
PsicomotorPsico- (grego) + motor (latim)
RomanistaRomano (latim) + -ista (grego)
SociologiaSocio- (latim) + -logia (grego)
Tatu-galinhaTatu (tupi) + galinha (português)
ZincogravuraZinco (alemão) + gravura (francês)

Há muito mais exemplos no léxico português. Em alguns casos, o hibridismo, mesmo com a tradicional condenação dos puristas, torna-se inevitável por haverem os elementos da mesma origem formado outras palavras. É o caso de televisão (grego tele- e latim visione). Se fôssemos tomar elementos apenas do grego, teríamos telescopia (grego tele- e grego scopein), vocábulo também existente, mas com outro sentido. O mesmo se passa com decímetro (latim deci- e grego metron). Para utilizarmos ambos os elementos gregos, teríamos decâmetro (grego deca- e grego metron), palavra também existente, com outro sentido. Mais um: amoral (grego a- e latim morale). Se quisermos empregar os dois elementos latinos, teremos imoral (latim i- e latim morale), vocábulo que tem sentido algo diferente.


Leia mais em:
Dicionário de Lingüística, de Zélio dos Santos Jota.
Dicionário de Lingüística e Gramática, de J. Mattoso Camara Jr.
Gramática histórica, de Ismael de Lima Coutinho, § 369.
Gramática metódica da língua portuguesa, de Napoleão Mendes de Almeida, § 632.