Você sabia? n.º 87 - Sexta, 30.07.2004
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Você sabia... que o vocábulo “solteiro” resultou da transformação fonética do latim solitariu? Geralmente, as vogais pretônicas latinas sucedidas por /k/ e /t/ intervocálicos caíram depois da sonorização desses fonemas, como em delicatu > deligatu > delgado, follicare > folligare > folgar e veritate > veridade > verdade. Por que, então, o /t/ de solitariu permaneceu em “solteiro”? Certamente, porque a queda do /i/ deu-se muito cedo, antes que ocorresse a referida sonorização. Assim, /t/ deixou de estar em posição intervocálica e não foi substituído por /d/.

Agora, você provavelmente perguntará: “Ué, mas como houve a queda do /i/ se temos na língua a palavra solitário?” Resposta: o vocábulo latino solitariu efetivamente transformou-se em “solteiro”. Acontece que no renascimento português (século XVI) os estudiosos eruditos introduziram no léxico inúmeras palavras latinas que já haviam evoluído no português. Dito de outro modo, retiraram-nas do “fundo do baú” e as ressuscitaram como eram originalmente, com ligeiras adaptações: são as formas eruditas. Assim, convivem hoje solteiro e solitário, cadeira e cátedra, bainha e vagina, etc., com sentidos diferentes.

Leia mais em:
Do latim ao português, de Edwin B. Williams, § 57, A.
Gramática histórica, de Ismael de Lima Coutinho, § 150.