Você sabia...
que o vocábulo “solteiro” resultou da transformação
fonética do latim solitariu? Geralmente, as
vogais pretônicas latinas sucedidas
por /k/ e /t/ intervocálicos caíram depois da
sonorização desses fonemas,
como em delicatu > deligatu > delgado, follicare
> folligare > folgar e veritate > veridade
> verdade. Por que, então, o /t/ de solitariu
permaneceu em “solteiro”? Certamente, porque a
queda do /i/ deu-se muito cedo, antes que ocorresse a referida
sonorização. Assim, /t/ deixou de estar em posição
intervocálica e não foi substituído por
/d/.
Agora, você provavelmente perguntará: “Ué,
mas como houve a queda do /i/ se temos na língua a
palavra solitário?” Resposta: o vocábulo
latino solitariu efetivamente transformou-se em “solteiro”.
Acontece que no renascimento português (século
XVI) os estudiosos eruditos introduziram no léxico
inúmeras palavras latinas que já haviam evoluído
no português. Dito de outro modo, retiraram-nas do “fundo
do baú” e as ressuscitaram como eram originalmente,
com ligeiras adaptações: são as formas
eruditas. Assim, convivem hoje solteiro e solitário,
cadeira e cátedra, bainha e vagina, etc.,
com sentidos diferentes.
|