Você sabia... por que ocorreu
o hiperbibasmo ao longo da história da língua
portuguesa?
“Hiperbibasmo” é o termo técnico
que se refere ao avanço ou recuo do acento tônico.
Compreende a sístole e a diástole.
A sístole é o recuo do acento tônico
de uma sílaba para a anterior. Como conseqüência,
vocábulos paroxítonos tornam-se
proparoxítonos, e oxítonos,
paroxítonos. Exemplos: benção
> bênção, pantanu
> pântano, campana
> campa, idolu > ídolo.
A sístole, como fenômeno sincrônico (muito
comum na poesia, incluídas as letras de músicas),
classifica-se como metaplasmo. Considerada fato diacrônico,
é mudança fonética.
A diástole consiste no avanço do acento tônico
de uma sílaba para a seguinte. Conseqüentemente,
vocábulos proparoxítonos tornam-se paroxítonos,
e paroxítonos, oxítonos. Exemplos: gemitu
> gemido, judice >
juiz, limite > limite,
oceanu > oceano.
Formas verbais também foram atingidas pela tendência,
como dubitat > duvida
e nominat > nomea
> nomeia. Compare com os substantivos correspondentes,
que curiosamente mantiveram o acento original: dúvida
e nome.
A diástole também pode ser fenômeno sincrônico,
caso em que se classifica como metaplasmo. Uma vez fato diacrônico,
é mudança fonética. Ela continua a ocorrer,
como em aríete > ariete,
cátodo > catodo,
clítoris > clitóris,
elétrodo > eletrodo,
têxtil > textil,
Martinez > Martinez.
Oceania decorre de influência hispânica,
já que a forma portuguesa deveria ser Oceânia.
As causas do hiperbibasmo são nossas velhas conhecidas:
a lei do menor esforço e a analogia. (Leia mais clicando
aqui.) Esta,
por sua vez, também tem suas causas.
Assim, os falantes lusófonos têm a tendência
para evitar as proparoxítonas, cuja pronúncia
é mais trabalhosa. Por isso, freqüentemente as
transformam em paroxítonas, como vimos em parágrafo
anterior. Mas em vários casos o fenômeno ocorreu
ainda no latim vulgar, como em cathedra
> cathedra > cadeira, integru
> integru > inteiro, muliere
> muliere > mulher.
A analogia foi forte fator de deslocamento do acento tônico
nas conjugações verbais do latim popular ou
vulgar. Dessa maneira, quando da fusão da segunda com
a terceira conjugação, as formas verbais desta
foram influenciadas pelo acento daquela, como em dicimus
> dizemos, facere >
facere > fazer, ponere
> ponere > poer > pôr, vendere
> vender. As formas do singular e
da terceira pessoa do plural do imperfeito do indicativo e
de outros modos do latim erudito influenciaram as flexões
do plural no latim popular. Desse modo, por analogia com a
terceira pessoa do plural amabant,
a primeira do plural amabamus tornou-se
amávamos.
O fator analógico também atuou em alguns substantivos,
que, por força da evolução fonética,
acabaram terminando em vogal nasal e ficaram com fonema nasal
na sílaba anterior. Nesses casos, a influência
de nomes terminados em /a/ átono fez com que aqueles
perdessem a ressonância nasal e sofressem sístole,
como campana > campã > campa,
*ventana > ventã > venta,
quintana > quintã > quinta.
Nas palavras em que a vogal nasal permaneceu e não
havia fonema nasal na sílaba precedente, o acento não
se deslocou: avelã, irmã,
terçã, etc.
|