Você sabia? n.º 106 - Sexta, 24.02.2006
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Você sabia... que as preposições portuguesas provêm todas do latim?

Os falantes do latim popular ou vulgar, que preferiam as formas analíticas às sintéticas (veja a respeito Você sabia? n.º 18), intensificaram o uso das preposições, o que diminuiu a importância das desinências que indicavam os diversos casos. Estes, por isso, reduziram-se a dois – o nominativo e o acusativo – e depois acabaram desaparecendo.

Assim, enquanto em latim erudito ou clássico escrevia-se liber Petri (livro de Pedro), no popular dizia-se libro de Petro. Vemos, portanto, o crescente papel que as preposições exerceram no latim, fato que continuou nas línguas românicas.

Fator de enriquecimento dessa categoria morfológica em nossa língua é o emprego de outras classes de palavras, como adjetivos e mesmo formas nominais de verbos, com valor prepositivo. Dessa forma, adjetivos funcionam como preposições, a exemplo de segundo e conforme. Particípios também ajudam, como salvo, exceto e junto. O antigo particípio presente forneceu tirante, passante, mediante e durante.

No latim, era comum combinarem-se preposições em formas compostas, o que também ocorre em português, como por exemplo até a, locução prepositiva formada pelas preposições “até” e “a”. Constituídas de substantivos ou advérbios e de preposições, essas locuções são numerosas, como além de, à maneira de, antes de, ao lado de, ao modo de, a par de, aquém de, debaixo de, dentro de, dentro em, depois de, devido a, em cima de, em presença de, em vez de, fora de, junto a, junto de, etc. Repare que todas essas formas compostas terminam por preposição, o que as distingue das locuções adverbiais.

A maior parte das preposições latinas chegaram até nós e, com mais ou menos alterações fonéticas, ainda estão em uso. Vejamo-las e sua origem:

a < ad
ante < ante
após < ad post
até < ad *tenes
com < cum
contra < contra
de < de
desde < de ex de
em < in
entre < inter
para < per ad
per < per
perante < per
ante
por < pro
sem < sine
sob < so < sob
sobre < super
trás < trans

* Tenes – Forma hipotética: supõe-se tenha existido, embora ainda inexistam documentos comprobatórios.

Nesse quadro, encontram-se apenas as preposições ditas “essenciais”, isto é, as que poderíamos chamar de “legítimas”. Isto porque, como já vimos, exemplares de outras classes de palavras podem atuar como preposição, a exemplo de conforme, consoante, exceto, fora, mediante, menos, segundo, etc.


Leia mais em:
Gramática histórica, de Ismael de Lima Coutinho, § 479.
Gramática metódica da língua portuguesa, de Napoleão Mendes de Almeida, §§ 525, nota 3; 526, nota 3; 542-547.