Você sabia? n.º 108 - Sexta, 28.04.2006
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Você sabe... o que ocorreu com o fonema inicial /v/ na passagem do latim para o português?

Essa consoante originou-se da semivogal /w/. A substituição de /w/ por /v/ deu-se nos primeiros séculos da era cristã e pode ter tido influência provençal. A grafia “v” só aparece em textos latinos a partir do Renascimento português.

Em posição inicial, esse fonema permaneceu em muitos casos, como em ualle > vale, uidere > ver, uinu > vinho, uite > vide, uicinu > vizinho, ueritate > verdade.

A alternância “v/b” ocorre desde os primórdios da língua. Algumas vezes, houve troca em posição inicial: uagina > bainha, uessica > bexiga, uotu > bodo. Em posição medial, a vacilação também transformou /v/ em /b/: auetarda > abetarda ou batarda, aue sthrutio > abestruz (avestruz). Essa flutuação ocorre até hoje: assobiar/assoviar, varrer/barrer (popular), vassoura/bassora (pop.), travesseiro/trabissero (pop.).

Às vezes, provavelmente por influência germânica, /v/ passa a /g/: uastare > gastar, uomitare > gumitar (pop.), uiticula > guedelha (ou gadelha). Pode acontecer também de /v/ passar a /f/: uehementia > femença (arcaico). A evolução ueruculu > ferrolho deveu-se à influência de “ferro”.


Leia mais em:
Do latim ao português, de Edwin B. Williams, § 61.
Gramática histórica, de Ismael de Lima Coutinho, pp. 124-125.