Você sabia? n.º 111 - Sexta, 28.07.2006
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Você sabe como se formaram em português os nomes designativos das centenas?

Vamos lá. Das formas do latim erudito (clássico), somente centum, ducentum, trecentum, quingentum e seus correspondentes femininos sobreviveram em nossa língua. As demais foram substituídas em latim popular (vulgar) por formas compostas por um numeral cardinal mais o acusativo plural *centos. Assim, por exemplo, *quattro + centos, octo + centos, etc.

Note algo interessante: essas palavras eram empregadas juntas, como ocorre hoje em dia (quatrocentos, oitocentos), mas centos era percebido como vocábulo distinto, o que evitou a sonorização do /s/ intervocálico (“quatrocentos” e não, “quatrozentos”). Parece que em vários desses compostos os falantes ainda têm a percepção de haver duas palavras, embora sejam escritas como uma só. Tanto é que em “setecentos”, por exemplo, o primeiro “e” é pronunciado // em todo o Brasil, embora esteja em posição pretônica.

Como em ducentos e trecentos não havia aquela percepção, ou seja, para os falantes, era uma palavra só, deu-se a sonorização. Desse modo, ducentos > duzentos e trecentos > trezentos.

“Quinhentos” não tem explicação unânime entre os estudiosos. J. J. Nunes e Edwin Williams entendem que no latim quingentos houve vocalização do /g/ no grupo /ng/. Dessa maneira, surgiu a forma *quinientos – que ainda se mantém em espanhol –, onde o grupo /ni/ passou a /ny/ e daí a /ñ/.

A evolução de centum foi centum > cento > cem, em que a apócope se deveu possivelmente a influência espanhola. No português arcaico, dizia-se “cem anos” ou “cento anos”. Atualmente, “cento” usa-se de forma combinada com dezenas e unidades – “cento e vinte e dois”, “cento e oitenta” – ou como substantivo: “um cento de laranjas”.
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* Forma hipotética, isto é, supõe-se tenha existido, mas ainda não foram encontrados documentos que a registram.


Leia mais em:
Do latim ao português, de Edwin B. Williams, § 134.
Gramática histórica, de Ismael de Lima Coutinho, § 446.