Você sabe como se formaram
em português os nomes designativos das centenas?
Vamos lá. Das formas do latim erudito (clássico),
somente centum, ducentum, trecentum, quingentum e
seus correspondentes femininos sobreviveram em nossa língua.
As demais foram substituídas em latim popular (vulgar)
por formas compostas por um numeral cardinal mais o acusativo
plural *centos. Assim, por exemplo, *quattro
+ centos, octo + centos, etc.
Note algo interessante: essas palavras eram empregadas juntas,
como ocorre hoje em dia (quatrocentos, oitocentos), mas centos
era percebido como vocábulo distinto, o que evitou
a sonorização do /s/ intervocálico
(“quatrocentos” e não, “quatrozentos”).
Parece que em vários desses compostos os falantes ainda
têm a percepção de haver duas palavras,
embora sejam escritas como uma só. Tanto é que
em “setecentos”, por exemplo, o primeiro “e”
é pronunciado / / em
todo o Brasil, embora esteja em posição pretônica.
Como em ducentos e trecentos não
havia aquela percepção, ou seja, para os falantes,
era uma palavra só, deu-se a sonorização.
Desse modo, ducentos > duzentos e trecentos
> trezentos.
“Quinhentos” não tem explicação
unânime entre os estudiosos. J. J. Nunes e Edwin Williams
entendem que no latim quingentos houve vocalização
do /g/ no grupo /ng/. Dessa maneira, surgiu a forma *quinientos
– que ainda se mantém em espanhol –, onde
o grupo /ni/ passou a /ny/ e daí a /ñ/.
A evolução de centum foi centum
> cento > cem, em que a apócope
se deveu possivelmente a influência espanhola. No português
arcaico, dizia-se “cem anos” ou “cento anos”.
Atualmente, “cento” usa-se de forma combinada
com dezenas e unidades – “cento e vinte e dois”,
“cento e oitenta” – ou como substantivo:
“um cento de laranjas”.
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* Forma hipotética, isto é, supõe-se
tenha existido, mas ainda não foram encontrados documentos
que a registram.
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