Você sabia... que as cinco
declinações do latim erudito,
culto ou “clássico” reduziram-se a três
no latim popular, também chamado “vulgar”?
Pois foi isso mesmo que aconteceu. Lembremo-nos de que as
declinações eram caracterizadas pela terminação
do caso “genitivo”, isto é, o que indicava
adjunto adnominal de posse. (Casos = formas que a palavra
assumia para caracterizar sua função sintática
na oração.) Assim, terræ (genitivo
de terra, æ) significa “da terra”.
O latim erudito ou clássico continha cinco declinações,
cada uma com a terminação do genitivo singular
conforme abaixo:
DECLINAÇÕES DO LATIM ERUDITO |
1.ª |
-æ – Rosa, rosæ |
2.ª |
-i – Lupus, lupi
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3.ª |
-is – Arbor, arboris |
4.ª |
-us – Manus, manus |
5.ª |
-ei – Res, rei |
No latim popular, as declinações eram apenas
três: a primeira, segunda e a terceira. Essas duas modalidades
de latim – o erudito e o popular – conviviam,
ainda antes da queda do Império Romano. Depois disto,
restou somente o popular ou vulgar, falado majoritariamente
pelas camadas incultas em razão do fim das escolas
e do ensino do latim culto. Por isso, com certeza tais declinações
reduzidas foram utilizadas paralelamente às cinco do
latim erudito. E que ocorreu com as demais?
No latim popular, os substantivos da quarta declinação
migraram para a segunda em razão da semelhança
das desinências
que indicavam os casos. Os nomes da quinta mudaram para a
terceira e alguns, para a primeira declinação.
Contribuiu para essa importante alteração o
fato de no próprio latim erudito alguns substantivos
serem declinados indiferentemente na primeira e na quinta
declinação – a exemplo de materies,
ei ou matéria, æ – e na segunda
e na quarta, como fructus, us ou fructus, i.
Esses casos, por seu turno, praticamente desapareceram com
o passar do tempo, ainda na época do latim como língua
falada. Restaram o “nominativo” (caso do sujeito)
e o “acusativo” (caso do objeto direto). Foram
os nomes neste declinados que passaram, em sua maioria, para
o português. Por essa razão, o acusativo é
comumente chamado caso “lexicogênico”, isto
é, gerador do léxico. Assim,
os acusativos aulam e arborem, por exemplo,
perderam o -m final por apócope e passaram
à nossa língua como aula, forma que
até hoje permanece, e arbore, que se transformou
em árvore.
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