Você sabia? n.º 128 - Sexta, 29.02.2008
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Você sabia... que as cinco declinações do latim erudito, culto ou “clássico” reduziram-se a três no latim popular, também chamado “vulgar”?

Pois foi isso mesmo que aconteceu. Lembremo-nos de que as declinações eram caracterizadas pela terminação do caso “genitivo”, isto é, o que indicava adjunto adnominal de posse. (Casos = formas que a palavra assumia para caracterizar sua função sintática na oração.) Assim, terræ (genitivo de terra, æ) significa “da terra”. O latim erudito ou clássico continha cinco declinações, cada uma com a terminação do genitivo singular conforme abaixo:

DECLINAÇÕES DO LATIM ERUDITO
1.ª Rosa, rosæ
2.ª -i Lupus, lupi
3.ª -isArbor, arboris
4.ª -usManus, manus
5.ª -eiRes, rei

No latim popular, as declinações eram apenas três: a primeira, segunda e a terceira. Essas duas modalidades de latim – o erudito e o popular – conviviam, ainda antes da queda do Império Romano. Depois disto, restou somente o popular ou vulgar, falado majoritariamente pelas camadas incultas em razão do fim das escolas e do ensino do latim culto. Por isso, com certeza tais declinações reduzidas foram utilizadas paralelamente às cinco do latim erudito. E que ocorreu com as demais?

No latim popular, os substantivos da quarta declinação migraram para a segunda em razão da semelhança das desinências que indicavam os casos. Os nomes da quinta mudaram para a terceira e alguns, para a primeira declinação.

Contribuiu para essa importante alteração o fato de no próprio latim erudito alguns substantivos serem declinados indiferentemente na primeira e na quinta declinação – a exemplo de materies, ei ou matéria, æ – e na segunda e na quarta, como fructus, us ou fructus, i.

Esses casos, por seu turno, praticamente desapareceram com o passar do tempo, ainda na época do latim como língua falada. Restaram o “nominativo” (caso do sujeito) e o “acusativo” (caso do objeto direto). Foram os nomes neste declinados que passaram, em sua maioria, para o português. Por essa razão, o acusativo é comumente chamado caso “lexicogênico”, isto é, gerador do léxico. Assim, os acusativos aulam e arborem, por exemplo, perderam o -m final por apócope e passaram à nossa língua como aula, forma que até hoje permanece, e arbore, que se transformou em árvore.

Leia mais em:
Do latim ao português, de Edwin B. Williams, § 13.
Gramática histórica, de Ismael de Lima Coutinho, § 386-397.