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Você sabia... qual é a origem do léxico
português? Pois saiba que ele se compõe de vocábulos:
· latinos evoluídos (via popular) e de outros que ingressaram
posteriormente pela via erudita, com ligeiras adaptações.
· vernáculos (formados no próprio português, geralmente, segundo
o modelo latino).
· importados de línguas estrangeiras.
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Via popular – Os vocábulos mais antigos de origem latina,
os oriundos do latim vulgar, sofreram muitas alterações na forma,
através das mudanças fonéticas e da analogia.
Contudo, com maior ou menor facilidade, é possível detectar-lhes
a origem. Neste grupo estão boca (do latim bucca),
árvore (arbore), água (aqua), mau
(malu), vinho (vinu), amat (ama,
verbo “amar”, assim como todas suas flexões), barata (blatta),
praça (platea), lagoa (lacuna –
“lacuna”, hoje em uso, entrou mais tarde, por via erudita),
leite (lacte), homem (homine), olho
(oculu), cadeira (cathedra – “cátedra”
entrou pela via erudita) e milhares de outras. Várias palavras
do latim vulgar manifestavam mais claramente o caráter afetivo
da cultura latina por serem empregadas no diminutivo e foi assim
que passaram para o português: enquanto a língua erudita usava
auris, a popular preferia auricula, que resultou
no português orelha; no latim erudito,
havia apis, encontrada na forma diminutiva – apicula
– no latim vulgar, que deu abelha em português; genu
tinha como diminutivo genuculu, transformada em joelho
em português; ovis, preferida no latim erudito, tinha
o diminutivo ovicula, empregada no latim vulgar, forma
que chegou ao português como ovelha. É evidente que tais
diminutivos também existiam no latim erudito, mas eram correntes
no popular. Vocábulos há, por fim, que permaneceram intactos
na trajetória do latim vulgar para o português e ainda continuam
com a mesma forma e sentido: terra, ave, porta,
dente, etc. Houve também palavras latinas que nos vieram
através do espanhol, do francês e do italiano, como lhano
(esp.) e piano (it.), oriundas de planu, e mesmo
do inglês, como mídia (de mass media; esta, plural
do lat. medium). Com raras exceções, as palavras latinas
chegaram ao português a partir da flexão no acusativo (caso
do objeto direto), chamado por isso de caso lexicogênico
(gerador do léxico). Os vocábulos no acusativo latino terminavam
em “-m”, terminação que desapareceu ainda no latim vulgar. |
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Via erudita – No Renascimento português (séc. XVI),
muitos vocábulos do latim erudito foram resgatados pelos escritores
e sábios e introduzidos no léxico português para acompanhar
o desenvolvimento científico, tecnológico e social. Quem conhece
as leis fonéticas (tendências na transformação fônica das palavras),
identifica a procedência culta desses vocábulos, já que não
apresentam as mudanças que deveriam ter ocorrido, mas somente
pequenas adaptações ortográficas. Nesse caso estão, além das
já citadas lacuna e cátedra, pleno (forma
transformada – cheio), duplo (dobro), íntegro
(inteiro), solitário (solteiro), vagina
(bainha), etc. Variante da via erudita é a semi-erudita,
pela qual vocábulos cultos, uma vez introduzidos na língua,
passaram por modificações fonéticas, como defesa (de
defensa) e humanidade (de humanitate).
Em outros casos, a forma semiculta convive com a popular: mágoa
e malha (de macula), artigo e artelho
(de articulus), vício e vezo (de vitium),
etc. |
Vocábulos vernáculos
Esta classe de vocábulos originou-se dos processos de formação
conhecidos por derivação e composição. Assim, de gênio (lat.
geniu), formou-se genial; de casa (lat.
casa), temos casarão; de cego (lat.
caecu), originou-se cegueira, etc.
Os prefixos, sufixos e elementos de composição (portugueses
e estrangeiros) também produziram formas vernáculas, como Psicolingüística
(do grego psyche), getulista (do antropônimo
Getúlio), jambeiro (do sânscrito jambu)
e muitas outras. O processo conhecido por “hibridismo” junta elementos
de línguas diferentes, como zincogravura (“zinco”, do alemão
zink + “gravura”, do francês gravure), automóvel
(“auto”, do grego autos, + “móvel”, do latim mobile,
através do modelo francês automobile), monóculo (“mono”,
do grego monos, + “óculo”, do latim oculu), guarda-mirim
(“guarda”, do latim guarda, + “mirim”, do guarani mirim),
etc.
Vocábulos importados
A importação de inúmeras palavras de outras línguas enriqueceu
nosso léxico e preencheu-lhe as lacunas. São os estrangeirismos
presentes no português. Nos últimos anos, porém, tem havido verdadeira
enxurrada de palavras estrangeiras desnecessárias, notadamente do
inglês, o que configura o vício de linguagem conhecido por barbarismo
em sentido restrito. De qualquer forma, os estrangeirismos foram
absorvidos e são empregados rotineiramente, como manga – fruta
(do malaio manga), cabala (do hebraico kabbalah),
hambúrguer (do inglês hamburger), capão – de
mato (do guarani caapaũ ), azeite (do árabe al
zait), samurai (do japonês samurai), champanha
ou champanhe (do francês champagne), pizza
(do italiano pizza), caudilho (do espanhol caudillo)
e centenas de outras.
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