Você sabia? n.º 75 - Sexta, 25.07.2003
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Você sabia... em que os particípios latinos resultaram em português? Examinemos cada um deles:

1. Particípio passado – Pertence, em latim, à voz passiva e portanto não se vincula a agente da ação verbal. Concorda em gênero, número e caso com o nome a que se refere e declina-se como bonus, a, um. Tomando como exemplo o verbo amare (amar), temos no particípio passado amatus (masc.), amata (fem.), amatum (neutro) = amado, amada, amado. No português antigo, ainda mantinha flexão de acordo com o vocábulo a que se referisse, como em “Palavras que ele tinha proferidas”.
® No português moderno (a partir do século XVI), o particípio passado deixou de flexionar-se, fixou-se na forma masculina singular e adquiriu sentido ativo: tenho passado, havia recebido, temos sentido, exemplos em que faz parte de tempos verbais compostos. Empregado com verbos de ligação, como “ser” e “estar”, exerce função adjetiva e concorda com o sujeito em gênero e número: “Fui nomeado ontem”, “Marina estava cansada” e “Os meninos serão examinados na próxima semana”. Hoje o particípio passado tem apenas o nome de “particípio”. Em nossa língua, além dos particípios terminados em -ado e -ido, há os com a terminação -so (aceso, preso, defeso) e -to (coberto, frito, tinto), oriundos do latim -su (accensu, defensu, prehensu) e -tu (copertu, frictu, tinctu). Esse fato possibilitou a existência de verbos com dois particípios, chamados “abundantes”, como acendido e aceso, cobrido (desusado) e coberto, defendido e defeso, fritado e frito, prendido e preso, tingido e tinto. Alguns verbos da primeira conjugação, além do particípio em -ado, apresentam outro, terminado em -e: assentarassentado e assente; entregarentregado e entregue; livrarlivrado e livre; quitarquitado e quite. Essas formas em -e não têm explicação fácil. “O particípio entregue, proveniente do adjetivo latino integre (com metátese), é a única forma participial em e cujo emprego remonta à fase mais antiga da língua portuguesa” (Said Ali).
2. Particípio presente – Concorda com o substantivo a que se refere e flexiona-se como nome da terceira declinação, como legens, legentis (que lê/do que lê). No antigo português, ainda conservava o sentido verbal latino.
® No português moderno, resultou em adjetivos (estrela cadente = que cai), substantivos (bom assistente = que assiste) e até preposições (durante, tirante). Do particípio presente do latim recebemos as formas em -ante para a primeira conjugação (amante = que ama, cortante = que corta, suplicante = que suplica); em -ente para a segunda (fervente = que ferve, temente = que teme, vivente = que vive); em -inte para a terceira (constituinte = que constitui, pedinte = que pede, ouvinte = que ouve).
3. Particípio futuro  –  Assume duas formas em latim:  uma ativa e outra passiva, chamada “gerundivo”.   A forma ativa  termina  em 
-urus, -ura, -urum e declina-se como bonus, a, um. Concorda em gênero, número e caso com o nome a que se refere e indica ação futura: “Ave Cæsar, morituri te salutant” = “Salve, César, os que vão morrer te saúdam” (frase atribuída aos gladiadores antes das lutas). A forma passiva termina em -ndus, -nda, -ndum e também se declina como bonus, a, um. Expressa ação futura associada à idéia de obrigatoriedade (o que deverá acontecer): “Delenda Carthago” = “Cartago deve ser destruída”. Como se vê, a construção é passiva, isto é, o sujeito sofre a ação verbal.
® Em português, o particípio futuro – tanto o ativo como o passivo – apenas deixou vestígios na forma de adjetivos ou substantivos: duradouro (que há de durar), imorredouro (que não há de morrer), vindouro (que há de vir); examinando (que deve ser examinado), instruendo (que deve ser instruído), legenda (que dever ser lida), memorando (que deve ser lembrado).

Leia mais em:
Gramática histórica, de Ismael de Lima Coutinho, § 544.
Gramática latina, de Napoleão Mendes de Almeida, § 248.
Gramática metódica da língua portuguesa, do mesmo autor, §§ 933 a 939.
Saite do prof. Paulo Hernandes, pág. Dica n.º 29.