Você sabia... em que os
particípios latinos resultaram em português?
Examinemos cada um deles:
1.
Particípio passado
– Pertence, em latim, à voz passiva e portanto
não se vincula a agente da ação verbal.
Concorda em gênero, número e caso com o nome a
que se refere e declina-se como bonus, a, um. Tomando
como exemplo o verbo amare (amar), temos no particípio
passado amatus (masc.), amata (fem.), amatum
(neutro) = amado, amada, amado. No português antigo, ainda
mantinha flexão de acordo com o vocábulo a que
se referisse, como em “Palavras que ele tinha proferidas”.
® No português moderno
(a partir do século XVI), o particípio passado
deixou de flexionar-se, fixou-se na forma masculina singular
e adquiriu sentido ativo: tenho passado,
havia recebido, temos sentido,
exemplos em que faz parte de tempos verbais compostos. Empregado
com verbos de ligação, como “ser”
e “estar”, exerce função adjetiva
e concorda com o sujeito em gênero e número: “Fuinomeado ontem”, “Marina estavacansada” e “Os meninos serãoexaminados na próxima semana”.
Hoje o particípio passado tem apenas o nome de “particípio”.
Em nossa língua, além dos particípios terminados
em -ado e -ido, há
os com a terminação -so (aceso,
preso, defeso) e -to (coberto, frito,
tinto), oriundos do latim -su (accensu,
defensu, prehensu) e -tu (copertu,
frictu, tinctu). Esse fato possibilitou a existência
de verbos com dois particípios, chamados “abundantes”,
como acendido e aceso, cobrido (desusado)
e coberto, defendido e defeso, fritado
e frito, prendido e preso, tingido
e tinto. Alguns verbos da primeira conjugação,
além do particípio em -ado, apresentam
outro, terminado em -e: assentar –
assentado e assente; entregar –
entregado e entregue; livrar –
livrado e livre; quitar – quitado
e quite. Essas formas em -e não
têm explicação fácil. “O particípio
entregue, proveniente do adjetivo latino integre
(com metátese), é a única forma participial
em e cujo emprego remonta à fase mais antiga
da língua portuguesa” (Said Ali).
2.
Particípio presente
– Concorda com o substantivo a que se refere e flexiona-se
como nome da terceira declinação, como legens,
legentis (que lê/do que lê). No antigo
português, ainda conservava o sentido verbal latino.
® No português moderno,
resultou em adjetivos (estrela cadente = que cai),
substantivos (bom assistente = que assiste) e até
preposições (durante, tirante).
Do particípio presente do latim recebemos as formas em
-ante para a primeira conjugação
(amante = que ama, cortante = que corta, suplicante
= que suplica); em -ente para a segunda (fervente
= que ferve, temente = que teme, vivente =
que vive); em -inte para a terceira (constituinte
= que constitui, pedinte = que pede, ouvinte
= que ouve).
3.
Particípio futuro –
Assume duas formas em latim: uma ativa e outra passiva,
chamada “gerundivo”. A forma ativa
termina em
-urus, -ura, -urum
e declina-se como bonus, a, um. Concorda em gênero,
número e caso com o nome a que se refere e indica ação
futura: “Ave Cæsar, morituri te
salutant” = “Salve, César, os que vão
morrer te saúdam” (frase atribuída aos gladiadores
antes das lutas). A forma passiva termina em -ndus,
-nda, -ndum e também
se declina como bonus, a, um. Expressa ação
futura associada à idéia de obrigatoriedade (o
que deverá acontecer): “Delenda
Carthago” = “Cartago deve ser destruída”.
Como se vê, a construção é passiva,
isto é, o sujeito sofre a ação verbal.
® Em português, o particípio
futuro – tanto o ativo como o passivo – apenas deixou
vestígios na forma de adjetivos ou substantivos: duradouro
(que há de durar), imorredouro (que não
há de morrer), vindouro (que há de vir);
examinando (que deve ser examinado), instruendo
(que deve ser instruído), legenda (que dever
ser lida), memorando (que deve ser lembrado).