Você sabia? n.º 118 - Sexta, 23.02.2007
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Você sabia... que o prof. Paulo Hernandes não está sozinho na luta contra a invasão lingüística, especialmente a constituída de anglicismos (origem inglesa), que afeta o idioma português no Brasil? Pois é. Ao lado dele, alguns defensores da nossa cultura têm firmado posição contra a enxurrada de palavras e expressões estrangeiras que assolam o País, alegre e colonizadamente promovida pelos meios de comunicação, especialmente pela TV, sob os olhares complacentes da Academia Brasileira de Letras.

Lemos, com satisfação, matéria publicada no semanário brasiliense Jornal da Comunidade (*), de 24.02 a 02.03.07, assinada por Carlos Oliveira, que transcrevemos na íntegra:

CONTRA O ESTRANGEIRISMO

O uso de palavras estrangeiras no dia-a-dia do brasileiro é tema freqüente de discussões. Foi por isso que o juiz substituto da 1.ª Vara de Guarulhos (SP), Antônio André Muniz Mascarenhas de Souza, determinou que o governo fiscalizasse o uso de estrangeirismos em anúncios publicitários, sob pena de multa.

A decisão tem caráter liminar e vale para todo o País. Mesmo assim, a iniciativa do magistrado é polêmica. Além disso, o Ministério Público fez uma enquete pela internet e, segundo o procurador Matheus Baraldi Magnani, de cerca de 300 internautas 90% apoiaram a decisão do juiz.

Na opinião da professora de Português Juliana Campos, o intercâmbio de vocábulos e de expressões entre as línguas é um processo normal de enriquecimento do vocabulário. “Os povos trocam entre si idéias e ideais, corporificados em palavras expressivas. É fruto do processo natural da civilização”, mas ela acha o uso de estrangeirismos no nosso País um grande exagero.

Segundo Juliana, é preciso considerar o grande número de brasileiros que não conhecem uma sílaba sequer em inglês. “Centenas de pessoas não entendem essa enxurrada de anglicismos, muitos dos quais desnecessários porque freqüentemente possuímos palavras adequadas para substituí-los”.

Juliana aponta que, antigamente, o que gerava polêmica no Brasil era o galicismo (uso de termos de origem francesa). “Hoje, são os anglicismos (inglês) que nos perturbam. A informática introduz palavras do inglês no vocabulário tupiniquim. Alguns já parecem instalados no idioma, por exemplo, ‘deletar’, ‘mouse’ e muitos outros”.

Para a professora, já não é possível evitar o uso desses vocábulos, popularizados em função dos computadores. “O uso é o imperador da língua”, afirmou e acrescentou dizendo que para exemplificar o quanto novas palavras são acrescentadas ao idioma à medida que são utilizadas, citou algumas bem conhecidas, que muitos nem se dão conta de que não são originárias do português. “Chaminé e paletó são bons exemplos. Imagine você substituir paletó por rodaque, como quis fazê-lo o saudoso mestre Castro Lopes, que era catedrático do nosso idioma”.

Mas como em todo debate existem prós e contras, Juliana diz que é contra a utilização de estrangeirismos. “Sou partidária da vernaculidade, da correção e da utilização das belezas do idioma. Gosto de usá-lo sem expressões e vocábulos que não nos pertencem”.

A professora entende que para combater a invasão de palavras estrangeiras é preciso educar os brasileiros nessa direção. “As boas conseqüências disso seria a conscientização da nossa gente, que só por si reagiria contra os abusos”, afirma. Para ela, o povo só valorizará sua língua se tiver educação de qualidade. “A imposição legal nesse terreno, em nossa opinião, não perduraria”.

O juiz Mascarenhas de Souza tomou a decisão no sentido de conter o uso de estrangeirismos em anúncios publicitários com base no Código de Defesa do Consumidor. Segundo ele, apenas a publicidade que não contenha algum tipo de oferta terá liberdade para o uso indiscriminado de qualquer símbolo, palavra ou gesto, “desde que sujeitando-se às regras dos artigos 36 a 38 do Código de Defesa do Consumidor (CDC), que proíbem a mensagem enganosa ou abusiva”.

Em sua decisão, o magistrado afirma que a União deverá fiscalizar e aplicar as penalidades previstas no Código, como multa, apreensão do produto ou cassação do registro. Em caso de descumprimento, Mascarenhas de Souza estipulou multa diária de R$5 mil à União.

Entendemos que atitudes isoladas não surtirão efeito. É preciso postura firme e consciente das autoridades em defesa da língua portuguesa, legítimo instrumento de expressão da cultura brasileira. Exemplo disso é o projeto de lei de autoria do deputado Aldo Rebelo (PC do B-SP), que ainda tramita no Congresso Nacional.

Para finalizar, reafirmamos a posição segundo a qual não nos opomos ao ingresso em nossa língua de estrangeirismos, conforme conceituamos esse termo, pois eles vêm preencher lacunas do idioma. Entretanto, na condição de barbarismos em sentido restrito, quando são importações desnecessárias, essas palavras e expressões contam com nossa permanente e vigorosa oposição.
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(*) – OLIVEIRA, C. Contra o estrangeirismo. Jornal da Comunidade. Brasília, B1, Educação, 24 fev.-2 mar. 2007.


Leia mais em:
Saite do prof. Paulo Hernandes, dica n.º 13.
Saite do prof. Paulo Hernandes, pág. Você sabia? n.º 33.
Saite do prof. Paulo Hernandes, pág. Você sabia? n.º 46.
Saite do prof. Paulo Hernandes, pág. Você sabia? n.º 115.