Você sabia... que o prof.
Paulo Hernandes não está sozinho na luta contra
a invasão lingüística, especialmente a
constituída de anglicismos (origem inglesa), que afeta
o idioma português no Brasil? Pois é. Ao lado
dele, alguns defensores da nossa cultura têm firmado
posição contra a enxurrada de palavras e expressões
estrangeiras que assolam o País, alegre e colonizadamente
promovida pelos meios de comunicação, especialmente
pela TV, sob os olhares complacentes da Academia Brasileira
de Letras.
Lemos, com satisfação, matéria publicada
no semanário brasiliense Jornal da Comunidade
(*), de 24.02 a 02.03.07, assinada por Carlos Oliveira, que
transcrevemos na íntegra:
O uso de palavras
estrangeiras no dia-a-dia do brasileiro é tema freqüente
de discussões. Foi por isso que o juiz substituto
da 1.ª Vara de Guarulhos (SP), Antônio André
Muniz Mascarenhas de Souza, determinou que o governo fiscalizasse
o uso de estrangeirismos em anúncios publicitários,
sob pena de multa.
A decisão tem
caráter liminar e vale para todo o País. Mesmo
assim, a iniciativa do magistrado é polêmica.
Além disso, o Ministério Público fez
uma enquete pela internet e, segundo o procurador Matheus
Baraldi Magnani, de cerca de 300 internautas 90% apoiaram
a decisão do juiz.
Na opinião
da professora de Português Juliana Campos, o intercâmbio
de vocábulos e de expressões entre as línguas
é um processo normal de enriquecimento do vocabulário.
“Os povos trocam entre si idéias e ideais,
corporificados em palavras expressivas. É fruto do
processo natural da civilização”, mas
ela acha o uso de estrangeirismos no nosso País um
grande exagero.
Segundo Juliana, é
preciso considerar o grande número de brasileiros
que não conhecem uma sílaba sequer em inglês.
“Centenas de pessoas não entendem essa enxurrada
de anglicismos, muitos dos quais desnecessários porque
freqüentemente possuímos palavras adequadas
para substituí-los”.
Juliana aponta que,
antigamente, o que gerava polêmica no Brasil era o
galicismo (uso de termos de origem francesa). “Hoje,
são os anglicismos (inglês) que nos perturbam.
A informática introduz palavras do inglês no
vocabulário tupiniquim. Alguns já parecem
instalados no idioma, por exemplo, ‘deletar’,
‘mouse’ e muitos outros”.
Para a professora,
já não é possível evitar o uso
desses vocábulos, popularizados em função
dos computadores. “O uso é o imperador da língua”,
afirmou e acrescentou dizendo que para exemplificar o quanto
novas palavras são acrescentadas ao idioma à
medida que são utilizadas, citou algumas bem conhecidas,
que muitos nem se dão conta de que não são
originárias do português. “Chaminé
e paletó são bons exemplos. Imagine você
substituir paletó por rodaque, como quis fazê-lo
o saudoso mestre Castro Lopes, que era catedrático
do nosso idioma”.
Mas como em todo debate
existem prós e contras, Juliana diz que é
contra a utilização de estrangeirismos. “Sou
partidária da vernaculidade, da correção
e da utilização das belezas do idioma. Gosto
de usá-lo sem expressões e vocábulos
que não nos pertencem”.
A professora entende
que para combater a invasão de palavras estrangeiras
é preciso educar os brasileiros nessa direção.
“As boas conseqüências disso seria a conscientização
da nossa gente, que só por si reagiria contra os
abusos”, afirma. Para ela, o povo só valorizará
sua língua se tiver educação de qualidade.
“A imposição legal nesse terreno, em
nossa opinião, não perduraria”.
O juiz Mascarenhas
de Souza tomou a decisão no sentido de conter o uso
de estrangeirismos em anúncios publicitários
com base no Código de Defesa do Consumidor. Segundo
ele, apenas a publicidade que não contenha algum
tipo de oferta terá liberdade para o uso indiscriminado
de qualquer símbolo, palavra ou gesto, “desde
que sujeitando-se às regras dos artigos 36 a 38 do
Código de Defesa do Consumidor (CDC), que proíbem
a mensagem enganosa ou abusiva”.
Em sua decisão,
o magistrado afirma que a União deverá fiscalizar
e aplicar as penalidades previstas no Código, como
multa, apreensão do produto ou cassação
do registro. Em caso de descumprimento, Mascarenhas de Souza
estipulou multa diária de R$5 mil à União.
Entendemos que atitudes isoladas não surtirão
efeito. É preciso postura firme e consciente das autoridades
em defesa da língua portuguesa, legítimo instrumento
de expressão da cultura brasileira. Exemplo disso é
o projeto de lei de autoria do deputado Aldo Rebelo (PC do
B-SP), que ainda tramita no Congresso Nacional.
Para finalizar, reafirmamos a posição segundo
a qual não nos opomos ao ingresso em nossa língua
de estrangeirismos, conforme conceituamos
esse termo, pois eles vêm preencher lacunas do idioma.
Entretanto, na condição de barbarismos
em sentido restrito, quando são importações
desnecessárias, essas palavras e expressões
contam com nossa permanente e vigorosa oposição.
_____________
(*) – OLIVEIRA, C. Contra o estrangeirismo.
Jornal da Comunidade. Brasília, B1, Educação,
24 fev.-2 mar. 2007.